Drummond e a Verdade

Acho - não tenho certeza - que foi Esra Pound que disse que os oetas são as antenas da raça. É uma verdade inquestionável. Ninguém consegue captar e explicitar, questionar e dissecar a alma do povo como os poetas. E nem denunciar as tiranias, os golpes, os atentados às liberdades. Ninguem rasga a fantasia do fascismo - sempre renascente - como os poetas. Também são eles que denunciam as meias verdades e mana dos tiranetes de plantão a impor a verdade absoluta. Nos momentos em que as meias verdades são enfeitadas para justificar os atentados à democracia, hoje mascarado de golpe parlamentar, imposto como verdade absloluta, nada como lembra um belo e contundente poema de Drummond, "Verdade":

"A porta da verdade estava aberta/ mas só deixava passar/ meia pessoa de cada vez.// Assim não era possível atingir toda a verdade, porque/ a meia pessoa que entrava só trazia o perfil da meia verdade.// E sua segunda metade/ voltava igualmente com meio perfil./ E os meios perfis não conciliavam.// Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta./ Chegaram ao lugar luminoso/ onde a verdade esplendia seus fogos./ Era dividida em metades/ diferentes uma da outra.// Chegou-se a discutir qual a metade mais bela./ Nenhuma das duas era totalmente bela./ E carecia optar cada um conforme/ seu capricho, sua ilusão, sua miopia".

Leiam e releiam o belo poema, um hinoà democracia.Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 05/09/2016
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