De onde vinha?

E que ansiedade era essa? Afinal, de onde vinha tamanha vontade de ver o mundo, de saber de si, de Deus, do amor, de tudo? Era algo em seu coração, ainda sem nome, desconhecido de seus conhecidos, ah, desconhecido dela mesma. Era como um véu que a permitia ver a vida, a vida que ela mesma havia criado e, nessa visão tão particular, perdia-se na urgência de entender. A lentidão dos outros era tediosa, esperavam pra quê? Já que podia desvendar a todos, o fazia, em meio à sua inconstância particular, deliciava-se com diferentes histórias, e risos, e vidas. Era o que a fazia vívida, sempre tão angustiada mas, aos olhos dos outros, tão alegre. É que, o prazer de conhecer a era prazeroso demais enquanto a energia do silêncio a torturava. Talvez fosse, também, seu maior defeito. Talvez devesse desvendar-se antes de procurar terras alheias, deveria encontrar o tesouro de sua existência, sempre adorou a solidão. Apesar de tudo, sabia que estava só. E, a ela, não era estranho, era a mais singela liberdade, um calar em seu coração tão urgente, bastava que soubesse de si, então, seria feliz.

Fernanda Marinho Antunes
Enviado por Fernanda Marinho Antunes em 05/09/2016
Reeditado em 15/12/2016
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