No meio da Floresta
Algum dia, daqui a algum tempo surgirá uma tribo no meio de uma grande floresta que vai relembrar os ensinamentos de seus antepassados. Lá os homens farão as pazes com os espíritos dos animais, das plantas e da terra, dos ventos, do fogo e das águas. Lá reaprenderemos a ouvir as estrelas e prestar atenção em todos os pequenos detalhes da vida e da morte. Voltaremos a enxergar essa teia que une a todos nós e voltaremos a compreender que muitas vezes a melhor palavra é o silêncio e que as verdadeiras amizades são reconhecidas pelas atitudes.
Nossos olhos embaçados de cotidiano voltarão a enxergar e falar as línguas do lobo, da coruja, da serpente e de todos os pequenos animais que trabalham unidos por um bem maior.
Nesta aldeia nos relembraremos de respeitar a experiência dos antigos e fazê-la caminhar com a curiosidade e o vigor dos mais jovens. Nesta tribo nada será feio, tudo será diferente e peculiar. Seus Caciques serão escolhidos pelas mãos calejadas, pelas cicatrizes das batalhas diárias, e pela tranquilidade no agir e no falar. Seus pagés serão os contadores de histórias, histórias reais e imaginárias com grandes ensinamentos de outras épocas. Cada erva, cada peixe, cada minúsculo grão de argila, cada folha caindo ao vento terá seu valor e será respeitada. Os animais e as plantas nos serão irmãos e os defenderemos de todos aqueles que ainda não tiveram seus verdadeiros espíritos despertados. Nessa aldeia, as crianças sem mãe serão filhas de todos, as dificuldades serão vistas com o entusiasmo que uma criança vê um novo brinquedo.
A noite e o silêncio serão vistos como amigos, como momentos para se refletir a respeito de suas atitudes e se aprimorar, e evitar cometer os mesmos erros do dia anterior e na manhã seguinte sempre que se achar que é preciso, retirar a ferrugem do desculpar-se.
A solidão será vista como momento para ocupar-se de si mesmo, saber divertir-se, ler, observar e pouco a pouco ir percebendo que nunca se está totalmente sozinho; que existem plantas, animais e que a chuva, os cheiros que o vento traz e as novidades e surpresas de cada dia são os presentes e os desafios de nossos antepassados para nós.
janeiro de 2010