À MARGEM DO POTENGI

À MARGEM DO POTENGI

Aqui, sentado à beira do Potengi, rio em cujas margens nasceu, cresceu e desenvolveu a minha amada Natal, contemplo o balançar das jangadas ancoradas e os últimos raios do sol espraiados sobre suas águas.

Meus pensamentos vagueiam e na calmaria desse momento minha alma regride em inebriadas sensações. Quero partir. Urge que o faça.

Aqui, neste mesmo lugar, houve tempo que não me sentiria assim, tocado por tão intensa nostalgia, embora isso fosse raro.

Às tardes, após as aulas na Faculdade de Direito, costumava vir aqui eu e minhas fantasias, meus sonhos, minhas esperanças e minhas frustrações. Alguns momentos de contemplação, como os de agora, segurando suas mãos invisíveis. Olhar perdido nas águas tranquilas do Potengi, a observar o nada e na introspecção me transmudava para outros momentos. O tempo não passava.

Hoje, tantos anos depois, retorno aqui, no mesmo lugar. Nada mudou, nem eu.

Hoje eu queria me encontrar com os meus fantasmas, poder falar e agradecer por meus sonhos, por minhas esperanças e também por minhas frustrações. Coisas que tinha e perdi, sumiram na escuridão das horas não vividas.

As aguas do Potengi aplanam e os meus pensamentos me conduzem para onde não quero ir.

Tenho que sair daqui.