Mergulho no Tempo
O tempo... Quanto tempo tem o tempo? É intangível, mas não incontável; invisível, mas sempre notado. Vai sempre para a frente, produz a vida, cria sentido. Está sempre presente, mas fazê-lo retroceder não é impossível. Basta brincar com a ideia de viajar em sentido inverso, mesmo que seja improvável, pois ele continua passando. Entretanto, como seria a vida se ele recuasse? Como os olhos de hoje veriam o que já mora no passado?
Viajando em sentido inverso, entro no túnel do tempo e vejo, no antigo sobrado, uma luz que ilumina as estrelas. As lembranças vão chegando e tomam lugar, enchendo-o de calor. As reuniões familiares acontecem em torno da mesa de jantar. Meu avô trouxe, do Caraça, o gosto pela leitura, pela busca de conhecimento, pelo cuidadoso uso da língua falada e escrita, pela música. Minha avó toca "Luar do Sertão" no piano e todos cantam.
O letramento é espontâneo e natural. Mãe- professora, com ela aprendemos, meus irmãos e eu, as mais lindas lições de vida e de amor. Cada hora de sua vida é uma afirmação de sua personalidade forte, da grandeza de seu caráter e do brilho de sua inteligência. Nossa casa vive cheia de seus alunos que completam a aprendizagem da escola no horário gratuito extraclasse. Minha mãe está aqui, rente, inventando uma história para cada um e para cada situação. Na mesa grande, saboreamos o sabor do conhecimento.
Essa fase da vida , tão distante e tão próxima, deu fôlego para encarar as outras tantas que vieram depois, com surpresas, muitas surpresas, que sempre trouxeram ânimo, fé e coragem para ver a vida como uma dança na corda oscilante do inesperado. As lembranças se tornam realidades melhores até do que qualquer coisa que possa acontecer de novo.