"no-brake" é a solução
Diante da incerteza e do risco só podemos nos dobrar, engolir a empáfia e aceitar as conseqüências. Triste constatação para quem como eu me julgo racional, previdente e cheio de bom senso.
Mas é verdade, as incertezas e os riscos permeiam tudo o que fazemos e muitas vezes o destino fatal se abate sobre nós sem que tenhamos a menor parcela de culpa.
Dizem que o segredo da sobrevivência consiste em estar no lugar certo, na hora certa, o que nos livraria de muitos desastres, ou pelo menos reduziria os riscos inerentes à vida cotidiana. As diversas variações possíveis desse par de determinantes trariam a sua carga de probabilidades nefastas. Estar no lugar certo na hora errada: horrível perspectiva... Estar no lugar errado na hora errada... Essa é fatal.
Essas pessoas que morreram no avião da TAM estavam no lugar certo provavelmente na hora errada, aviões atrasados. Dizem que os aviões são m meio de transporte mais seguro que há. Acidentes nas estradas matam muito mais, cerca de 40 mil pessoas por ano, quase o mesmo número que os assassinados por arma de fogo. Mas essas são mortes que se diluem no tempo, não chamam muita atenção. Já um acidente de aviação oferece um espetáculo macabro, centenas de mortos inocentes instantaneamente. No filme que passou na televisão vê-se o clarão da explosão. O avião passa com grande rapidez pela pista, desviando-se para a esquerda apenas no último segundo. Qualquer um que vê a cena não deixa de pensar na causa provável: estava sem freios. Quem já andou de avião sabe que aquela freada na aterrissagem é terrivelmente assustadora. Tem que ter lona de verdade para parar um monstro daqueles, 68 toneladas de peso, parece, bem mais que um Scania carregado na estrada. E ele não parou, nem sequer desacelerou, deixando dúvidas sobre uma possível intenção de retornar aos ares e transformar a aterrissagem em decolagem, o que seria a salvação momentânea do grupo.
Enfim, as caixas pretas esclarecerão os motivos do acidente. Elas foram criadas com esse objetivo. E nesse momento em que todos parecem entender tanto de aviação que já se transformou, tal como o futebol, numa outra paixão dos brasileiros, as cogitações sobre o acontecido não têm valor de conclusões. São apenas isso: cogitações. Não adianta dizer que o número de passageiros cresceu muito e que o governo nada fez a respeito, pois o governo fez. Quem viu o debate recente no programa “Roda Viva” da tevê Cultura, que versou exatamente sobre o tema Aviação sabe que o número de passageiros cresceu, porém o número de vôos diminui, pois os aviões de hoje carregam mais gente por viagem. Então há sentido em se melhorar os terminais de passageiros. Mas e as pistas? Parece óbvio que esses aviões mais pesados precisam de pistas maiores, e que o risco aumenta muito em aeroportos limitados como Congonhas, pois caso ocorra qualquer mau funcionamento nos sistemas do avião, o pobre piloto fica sem alternativas corretivas. Agora o prefeito de São Paulo já fala em desapropriar quatro quadras nas cabeceiras das pistas de Congonhas para criar as tais áreas de escape que reduziriam o risco das manobras de aviões grandes, pois ele não quer perder Congonhas como principal aeroporto do país com tudo o que isso pode representar para a cidade de São Paulo.
Quanto à crise aérea, é inegável que o sistema precisa ser administrado com mais rigor. Não é possível admitir que tantos fatos negativos ocorram com tanta freqüência: panes nos sistemas de comunicação, pois um gerador de eletricidade deixou de funcionar, como ocorreu ontem no Cindacta 4! Ora, isso não pode ocorrer, nem o meu computador desliga mais por falta de energia elétrica. No-brake neles, senhores. E freios nos aviões.