SÓS
Quando regressou das marchas vitoriosas, sob a égide de conquistador do mundo, não encontrou mais ninguém. A tristeza havia invadido a fortaleza onde morreram todos os parentes. E o mais profundo desgosto se alojou no coração do rei. Um castiçal sustentava a luz que guiava o caminho. A vida passou a ser impossível. E, então, ele definhou. O abalo só não rompeu com o silêncio. Um tinha o outro. Adivinhos de si mesmos. Por mais desapiedado... - Era isso mesmo. Até que a vela foi a frações de cerúmen. Fez-se treva. Não era mais um isolamento, mas a agonia da morte. A vida foi reeditada em dois atos: reabriria as covas, para que as almas de seus entes encarnassem num último abraço; e, após vencido desse dia admirável, fecharia os olhos para não mais existir. Assim, não haveria saudade. Porém, ele não era Deus. Chegou a admitir a renúncia da sua vida moribunda... - Mas, o que teria para dar senão o resto de seus dias? Então, decretou a si mesmo: nada mais ordenarei. Continuarei desprovido da claridade fosse dia ou noite. Não me darei direito ao sonho. Arrancarei as unhas nas paredes da prisão e esperarei. E, quando a minha hora chegar, elegerei a loucura a segurar-me a mão. Deixarei, feito herança, a desgraça que foi a minha impagável vida de ilusão. Serei enterrado em vala de indigentes. Não haverá cruz, nome ou flores, já que não fui digno de enterrar todos os meus amores.