No mesmo cesto de Lixo
Nem sempre saímos de casa com o humor que a luz do dia merece como também não é todo dia que um envelope volumoso endereçado a uma mulher desarticula dramaticamente nossos planos. Um dia desta tribulada semana de pouco tempo para a diversão, fui numa loja de pirataria em busca de um filme interessante que quebrasse a minha rotina medíocre de jornais e novelas. Dentro da Loja sentei-me como de costume e mergulhei na leitura das capas. Ao lado do meu banco uma revista destas sensacionalistas semanais, mas de capa antiga trazia a foto de um ex-senador e presidente do Brasil, que segundo alguns está cumprindo horas extras na terra. Naquele dia a temperatura estava baixa fazendo com que nós meros filhotes do calor andássemos embotados feito Pingüins em busca de abrigo aquecido, isso fez com que a vendedora se sentasse encolhida ao lado da porta, como outros clientes e passadores de tempo por ali seu intuito era de absorver um pouquinho do calor de um sol tímido que vazava em um buraco da telha de zinco que servia de toldo. Folheando a revista abri na crônica de Lia Luft. Enquanto me preparava para a leitura caiu de dentro um envelope com os dizeres "aos cuidados de Márcia". Não estava lacrado e no interior notava-se certo volume, a curiosidade queimou nos meus dedos com uma série de fantasias invadindo minha mente. Olhei para a moça no banquinho displicente e bocejante e, pensei retirar aquele papel para saber o que alguém mandava dizer a tal Márcia. De repente um cliente procurando o filme "Tropa de Elite" entrou e rompeu com o impasse que me afligia. Voltei então a procurar meu filme devolvendo o envelope para o interior da revista a deixei sob a banca de DVDs, achei um Glauber Rocha que já tinha e um Babenco que procurava, paguei e sai, quando passava da porta, a moça chamou-me e entregou a revista como seu eu estivesse esquecido algo meu, olhei com a consciência de alguém que esta prestes a cometer um crime, mas que sente algo compensador pedir que siga. Não tive dúvidas, passou-me ainda pela cabeça um demoniozinho vermelho de chifres pequenos dizendo que fiz a coisa certa, no lado oposto um anjinho personalizado com seu cabelo de caracol e camisola branca tentando mudar o que estava sendo orquestrado no meu lado escuro. O mesmo cliente que a pouco queria a “Tropa de Elite” voltou como se procurasse alguma coisa. Mandei o anjinho se danar e andei em passos largos, olhei para trás certificando que a moça não estava à porta para dizer que a revista não era minha, mas nada de anormal acontecia, o cliente procurava por uma chave, pois passou correndo ao meu lado, pedindo alguém em outro piso esperasse. Fui à caça de um lugar tranqüilo que satisfizesse minha curiosidade que ardia com uma multidão de interrogações sem respostas. Assim minha cabeça tentava argumentar as situações da Márcia, talvez fosse um caso extraconjugal e uma carta anônima estaria chantageando-a, ameaçando de entregar tudo. O que poderia querer em troca? Um cara sem escrúpulos que para não arruinar sua vida, queria sexo e dinheiro. Ou será que Márcia estava metida em alguma ação criminosa? Trafico de drogas? Tráfico de crianças? Tráfico de órgãos? Seria ela uma linda garota de programas? Daquelas que aparecem com a silhueta avantajada e fumando cigarros nos pontos insalubres das esquinas? Márcia pode estar sendo vitima de traição do namorado e uma garota que ainda não se assumiu como homossexual deseja sua primeira experimentação com ela! Está enviando de forma anônima para denunciar e reivindicar prazer, poderia ser qualquer coisa. Mas não pude mais conter o fogo mastigador da curiosidade, entrei em um banheiro público e li que teria que pagar 50 centavos para usar, tudo bem, precisava de um tempo de solidão, agachei e Joguei a revista no cesto e ainda fiquei olhando o Senador misturar-se aos papéis sujos de bosta até que se completaram, Não tive pena. Na ânsia de descobrir os segredos de Márcia, retirei o volume com avidez e sem esconder a decepção li em voz alta o nome de um candidato que pedia votos a Márcia com alguns retratos e chaveiros com o numero. Depositei no cesto de lixo onde jazia o Senador e os outros papéis.