Meu amigo Gerry
Não, meu nome não é Tom e tampouco o dele era Jerry.
Nascido nas Minas Gerais, na Zona da Mata, tinha uma penca de irmãos e irmãs, eram em nove, pra manter a exatidão. O pai, mineirão astuto que não conheci, tinha, segundo Gerry uma filosofia ímpar, do alto de sua sólida ignorância afirmava categoricamente - se não posso dar estudo aos nove, não dou pra nenhum e tenho dito!
E foi assim que todos mergulharam no analfabetismo consentido, antes, buscado por quem teria a obrigação de o evitar, mas Gerry não sofria com isso não. Amava o pai e não via na sua atitude nenhum descalabro. Um a um foram indo pra São Paulo e buscaram seus caminhos.
A maioria tinha nomes bíblicos, exceto Gerry que tinha mais a ver com desenho animado, no nome e na alma – era uma pessoa boníssima! Almejava subir na vida, mas somente faria isso com ética, ao contrário de tantos e tantos e tantos.
Aos domingos, com suas roupinhas pobres mas limpas, muito bem cuidadas lá ia ele a caminho da igreja – dizia: posso faltar não, tenho que rezar por meu pai que já se foi. E pisava durinho na manhã suja, encardida.
Em alguns momentos de conversa, poucos que ele não era de falar muito, dizia que ia à igreja pra rezar mas não era só por isso não; tinha lá uma gatinha que era de uma beleza de “tontear o pião”. Amava o Gerry, mas ela não sabia e esses amores ocultos são os amores que resistem ao tempo.
Falar em tempo esse tempo passou, tudo foi, nunca mais o vi, mas nunca esqueci aquele jeito franco de ser e creio que em sua simplicidade foi feliz, ou pelo menos espero que tenha sido, como só aos muito simples acontece ser.