O trem da alma
Assis Silva
O trem passa atrás da minha casa e bem próximo há uma estação. Estação do encontro, chegada e partida. As pessoas se apressam, parece que estão sempre atrasadas, mas não sei para quê...chegam e saem correndo. Cada uma no seu mundo, na sua música, nas suas necessidades. Entram no vagão disputando espaços, sentam e viajam sozinhas, mesmo estando o trem lotado. Os olhares olham para o nada. Fora do vagão um homem dorme debaixo de papelões, ninguém vê, olham, mas não veem. E conforme vai o trem, passam-se prédios, casebres e caixas de papelão.
De dentro para fora do trem vê-se um mundo hostil, onde o ter mistura-se e torna-se mais importante que o ser. Os que têm querem estar no topo, no alto e por isso constroem casas de dois pisos, e quanto mais alto, mais poder, mais “ser-ter”. Os casebres ninguém vê, ninguém tem um minuto de ilusão. Os vagões trafegam no meio disso tudo e carregam tantos mundos, tantas histórias.
Conforme vão passando as estações entram e descem pessoas. Cada uma no seu estilo ou condição econômica: engravatados, ternos, vestidos caros, maquiagens e cabelos bem cuidados_ cabelos desarrumados, roupas velhas, sem maquiagem, etc. Porém, só os bem vestidos é que são vistos, os outros, os olhares apenas passam por eles. Os olhos não têm culpa do que não veem, foram mal-educados, induzidos a ver o que lhe apraz, o físico. Assim como se aprende a andar, deve-se aprender a olhar. A visão pode ser o sentido que mais fácil leva a erros, pois, parece ser a porta de nossos pensamentos. O olhar é a porta da alma.