O COVEIRO
Cada uma das avenidas daquele cemitério tinha um nome figurado. Caminhava por entre as catacumbas, como se fosse um estimado de cada alma. A assiduidade aos entes dos outros, era quase uma consagração; uma ocasião encantada pela solidão das covas. Ele era a única coisa viva, dentre centenas de mansões desabitadas. Às vezes, parava para olhar os retratos esmaecidos, com o semblante de impassibilidade. Havia recebido o ministério de não apenas sepultar os mortos... - Irrigar as plantas, pintar os meios-fios, limpar as lápides, lustrar as cruzes e as porcelanas, eram, encargos...- Zelava pela reminiscência da cidade, por meio das vidas enterradas; e, num obituário, registrava a epístola dos vivos; algo que guardava em sigilo absoluto. – Nenhuma vida era ultimada sem a deferência devida – E, quando tudo se fazia silêncio e apenas o vento sibilava... - Um lugar fora reservado debaixo da mais frondosa árvore, como testemunha de todas as narrativas; e, para que, devidamente sepultados, os que constavam naquele livro dos mortos, pudessem sossegar, sem a avareza das contas terrenas. Era assim que retornava para o mundo dos vivos, consciente de que a sua reza era a clemência de que precisavam para subir aos céus.