Diário de Sonhos #102

Já faz um bom tempo que não escrevo nada aqui. Sei lá, cansei de falar sobre mim. Não quero que mais ninguém saiba sobre quem eu sou e o que eu sinto. Mas estes dois sonhos vale a pena registrar. Estou tendo estes sonhos de dor e morte constantemente. Só consigo lembrar de dois.

Parada Cardíaca

Este sonho está associado com as constantes dores que venho sentindo no peito há um tempo. Sonhei que estava em casa quando meu peito formigou. Senti os braços e a cabeça formigando. Então senti dificuldades em mover os braços. Logo também senti dificuldade em respirar. Deitei. Minha mãe veio em meu socorro, me deitou no colo dela. Eu não conseguia falar, minha boca não obedecia. Eu dizia "não mãe, deixa, deixa, dessa vez eu não quero lutar. Dessa vez eu quero isso". A visão foi escurecendo e a última coisa que eu vi foi ela em cima de mim fazendo massagem de ressuscitação cardiopulmonar. Quando volto a enxergar estou deitado e ela em cima de mim, passando as mãos em meu cabelo e dizendo que estava tudo bem. Uma aflição indescritível toma conta de mim. Não consigo segurar. Choro muito, urro em prantos. Ela diz que está tudo bem, que não vai acontecer de novo. Acordo do sonho. Sinto umas pontadas no peito esquerdo. Choro baixinho e deito. "Até quando isso vai continuar?", penso e volto a dormir.

Nervos

Sonho que estou num grande hospital. Ao que parece eu sou algum tipo de médico ou sei lá. Um homem vem até mim pedindo ajuda. Está com um inchaço no dedo indicador direito, logo acima da unha. Conheço aquele machucado. É de tocar violão com força. Pego um bisturi e faço uma incisão pra liberar o pus da região. Resolvo puxar a pele flácida pra crescer outra depois (igual a gente faz quando estoura uma bolha nas mãos). O homem grita e sai correndo. Tento pedir desculpas mas é tarde. Arrependo-me. Gostaria de não ter puxado a pele flácida. Olho pra minha mão direita. Como uma infecção contagiosa reparo que meu dedo indicador também possui uma bolha igual. Inicio o procedimento. Com o bisturi faço uma incisão e logo em seguida tento retirar a pele flácida. Mas puxo com muita, muita força. Praticamente toda pele do meu dedo descola. Minha carne está à mostra. Dói muito, entro em desespero. Resolvo encarar a dor e retirar o resto. Muita força de novo. Agora todos os nervos e vasos capilares estão expostos e o dedo arde como brasa. Acordo do sonho assustado.

São Paulo, vinte e oito de agosto de dois mil e dezesseis.

Renan Gonçalves Flores
Enviado por Renan Gonçalves Flores em 28/08/2016
Código do texto: T5742954
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