MURIBECA DOS GUARARAPES

Gostoso ficar sentindo o vento frio no rosto que me transporta para uma paisagem mineira de montanhas e verde. No alpendre do oitão, deixo-me estendida na rede branca de algodão, a balançar nas lembranças do meu pensamento.

Circundada de verdes, acho-me numa casa grande de madeiras e barro, que lembra algo muito querido à distância. Vez por outra, quebrando o estar nas Gerais, adoço minha garganta e alma com a água de coco, presente dos deuses às criaturas minúsculas da Terra.

Estar em paz... O que sempre desejei um dia. E este momento é tudo o que eu queria para alimentar o corpo e refletir sobre a minha vida e a dos outros que amo. Uma conversinha cá e outra acolá, para fazer-me ligar ao presente. Gente amiga por perto, e a música sempre acompanhada do violão em mãos sábias e sensíveis.

Cai a noite, e o café lá na cozinha, tem um aroma que influencia organicamente os gestos, fazendo-me deslocar à mesa. Pão quente e dividido irmanamente entre todos, aos risos e conversas amenas. Depois... O agasalho retirado do baú das memórias para esquentar o corpo que agora tem frio.

Volto ao alpendre, desta feita com amigas queridas e tão diferentes, mas que tem em comum,uma díade especial : amor e sensibilidade. Sinto-me imensamente feliz e quero que este momento pare no tempo para que possamos ficar assim juntas, conversando e molhadas pelo vinho até a madrugada. Pactos de crianças são realizados, sem que exista temor diante do desconhecido da vida.

A volta, o reencontro, que bom! Momento especialíssimo vivido por três seres diferenciados que necessitam do estar juntos. Olhar-se, falar-se, sentir-se e emudecer-se quando se quer sensibilizado com tudo que os circunda naquele ambiente.

Amanhã iremos à cachoeira da mata da Muribeca. Nos banharemos na água e na natureza, e os deuses que se encontram lá, nos energizarão com sua força, para que continuemos a emanar a vitalidade que se encontra em nossos corpos e mentes.

Enquanto isso me recolho a mim no sussurro do vento frio, ouvindo agora os sons da noite que fazem-me compactuar com o mana desta mata e casa, como se longinquamente pertencesse a este lugar.

Será que a vontade é tão grande, que esqueço por alguns segundos que tenho em mim, a linearidade do burgo chamado Mauricéia? Porque a ânsia então, por sentir e olhar os relevos, sair de mim correndo pelos espaços da casa, ao encontro de fantasmas?

Tudo me é familiar, como os sons de vozes, os passos, as silhuetas que se movem aqui e estão retidos na memória da infância num espaço similar!

sonia barbosa
Enviado por sonia barbosa em 06/10/2005
Reeditado em 06/10/2005
Código do texto: T57429