Pequenas histórias 156
Até entendia
Até entendia o que lhe faltava, mas precisava de estimulo, de motivos contundentes para que o entender fosse o que deveria ser. Espancava o cérebro com palavras desastrosas a indicar o caminho correto. No entanto, na sua visão de poeta amador, seguia caminho diferente, onde a timidez se tornava mais patente, mais crucial tolhendo os movimentos. Sofria, e como sofria ao sentir as ações reprimidas inconscientemente. Lutava contra isso, porém era luta sofrível, não avançava, permanecia sempre no mesmo lugar. O corpo seguia os limites da existência física deslumbrando olhos femininos sexualmente. Reprimia a curiosidade no escuro do aposento satisfazendo as fibras excitadas.
Não desprezava as probabilidades, olhava uma por uma na delicadeza da rotina sem perder os detalhes, confiscando os meandros das linhas escuras ou claras dos edifícios, ruas, esquinas, praças da vida humana. Aberto as experiências em todos os sentidos, trafegava na linha do improvável confiando no resultado. O que nem sempre satisfazia o pensamento físico e nem o corpo intelectual. Caia em pequenas depressões sentimentais. Às vezes ficava semanas na deriva da calmaria deixando-se levar pela brisa do negativismo. Escorado no processo criativo de sobrevivente, colocava um pé a frente do outro cauteloso, sem temer onde pisava. Decidido prosseguia subindo o andaime firme da sabedoria.
pastorelli