O jornal

Me peguei sentado lendo. Nossa, como as notícias nos jornais são banais, sem sentido, sem me causar empatia! Vai ver é essa falta de sono. Vai ver é esse meu desgosto pela vida. E sentado naquela poltrona naquele dia chato de Terça, poxa, havia algo mais do que reclamar?

Ah sim! Havia me esquecido, como era bem tratado: poucos lembravam meu nome no trabalho, outros nem questão de falarem comigo faziam. Bem, a mim pouco importava. Já vivia muito tempo no automático, casa, trabalho, casa. A vida de um fantasma, pária, pálido, invisível. Cada dia como com um ciclo interminável e repetitivo. E fui folheando e fui lendo os cadernos, entediado e pensando, o que ali naquele monte de papel me prenderia a atenção? Já era Quarta quando cheguei nos obituários e vi meu nome ali. Seria eu? Não. Infelizmente uma coincidência. Alguém com o mesmo nome que o meu, que tão comum era. Cara de sorte, mesmo na morte, era mais famoso e notado que eu.

Ainda não veio o sono, o jornal acabou e não fui dormir.

Dom Torres
Enviado por Dom Torres em 26/08/2016
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