SALVE 25 DE AGOSTO! DIA DO SOLDADO

Neste dia, em 1984, quando eu servia no 16° GAC - Grupo de Artilharia de Campanha, em São Leopoldo, o General da Divisão veio inspecionar o treinamento dos recrutas ingressados em 6 de janeiro último e, num cerimonial, seríamos aclamados soldados.

Era dia tenso. O Capitão, Mário Luiz Rossi Machado (chamado secretamente entre os recrutas, cabos e soldados de Cabeção), recomendara também sobre a apresentação pessoal, sugerindo que engomássemos a farda VO para a solenidade. Eu, querendo sempre fazer bem para bem cumprir o ano de quartel, pedi para minha amada maninha, Vera Vera Lúcia Gonçalves, que gentilmente lavava minhas poupas, para engomar minha farda. Ela, com todo bom coração, juntou os recursos que tinha (pouco conhecimento sobre o assunto) e maisena, preparou a fórmula e engomou o uniforme. Quando cheguei em sua casa para pegar a farda engomada, ela pouco faltava chorar, preocupada que eu seria punido, pois a roupa ficara toda malhada de branco, parecendo farda de "pelopeano" (integrante do PELOPES - Pelotão de Operações Especiais). Conformei ela, deixando-a segura de que nada aconteceria e me fui para o quartel preocupado se não seria mesmo punido.

Na manhã seguinte, após vencer o dilema se punha a farda não lavada, mas sem manchas, ou a limpa e até engomada, parecendo farda de “pelopeano”, que eu já passara bem frisada e armada, vesti esta última e saí para o alpendre para ver de vez o que aconteceria. E, estando por ali a conversar com alguns dos guris (não recordo mais quais), logo apareceu o Capitão vindo dos lados do rancho e entrou em nossa conversa descontraída. E, passado algum tempo, vendo que era próxima a hora da formatura, foi nos deliberando para as preparações finais e entrada em forma, examinando um a um de alto a baixo. E, ao contemplar por inteiro minha figura, por instantes ele quedou paralisado, olhando fixo e mudo. E eu, do outro lado, expectante para ver que sentença pronunciaria, já preparado para enfrentar o pior.

E, ao saiu-lhe a voz, ele disse:

- Que farda é essa 89?

Eu tentei explicar, dizendo que era a farda engomada, como ele pedira, mas que a fórmula tinha dado errado. Mas, ignorando minhas explicações, ele interrompeu-me dizendo:

- Tu tá doente!

Pareceu que ele tinha perguntado se eu estava doente. Então respondi:

- Não Capitão, não estou doente. Não sinto nada.

Mas, imperativo, ele disse:

- Tu está doente sim.

E dirigiu-se a dois dos colegas ordenando que me carregassem pra enfermaria, recomendando-me que ficasse lá como doente e não aparecesse com aquela farda na frente do General.

Rindo-nos muito, os guris me levaram para enfermaria e me deram uma espécie de baixa explicando para o enfermeiro que era recomendação do Capitão. Por lá fiquei por todo dia, imaginado feliz que não teria que responder ao general nenhuma pergunta “pega-ratão” e nem ter que desmontar armamento na frente do homem.

Quase no final da tarde, entretanto, o General foi na enfermaria com o “Carcanhá”, comandante da unidade, Coronel Ayrton José Lermen, fazer uma visita para os doentes. Avisado pelo cabo enfermeiro, eu me fui para debaixo do cobertor (no dia era frio), pois o homem não podia ver minha cara e muito menos a farda malhada. E, com o rosto coberto, fiquei morrendo de rir enquanto o General com o Coronel e o cabo enfermeiro ia de leito em leito cumprimentando os convalescentes e falando-lhes alguma coisa. Ao chegar em meu leito, o General indagou porque o combatente ali estava com o rosto coberto e por qual motivo tremia tanto, pois eu me ria em silencia sob o cobertor. O cabo enfermeiro respondeu que por causa das manchas que eu tinha no rosto, provenientes da doença que eu tinha, envergonhado, eu não queria mostrar o rosto. E, quanto a tremura, ele disse que eu devia estar com muita febre e muito frio, por isso devia estar tremendo.

Satisfeito, o General se foi recomendando que o enfermeiro medisse minha temperatura e me cobrisse melhor.

Assim passei o dia 25 de agosto no quartel. Ao final do dia, quando anunciaram que o General já tinha ido embora, voltei para a bateria, mas sentindo que tinha perdido o melhor daquele dia.

Sou SD Wilson, 389, da Primeira Bateria de Obus. Servi em 1984.

Wilson do Amaral