FRAGMENTOS DE MITOLOGIA GRECO-ROMANA-PARTE V

1-Onde atualmente é o centro comercial da moderna cidade de Tebas, há trinta e tantos séculos CADMO mandou construir uma casa real e fundou a cidade de Cadmeia sobre uma colina em forma de pêra, flanqueada pelos córregos Dirce e Ismeno. Filho do rei AGENOR, veio da Frísia (costa norte de Canaã e da Síria) e teria fundado Cadmeia após consultar o oráculo de Delfos quando, da ordem do pai e equipado de um navio, percorreu o mundo à procura de sua irmã EUROPA, raptada por Zeus. CADMO introduziu na Grécia a escrita que teria trazido do Oriente. A dinastia que em seguida governou Tebas foi a labdácida, de LÁBDACO, filho de POLIDORO, sendo LAIO, filho de LÁBDACO, o rei mais renomado, que com JOCASTA gerou ÉDIPO - este acabou por matá-lo, sem saber de quem se tratava. Após decifrar o enigma da ESFINGE, ascendeu ao trono de Tebas, casou-se com JOCASTA, tiveram filhos, ignorando que era sua própria mãe. Ao conhecer a triste estória, arraancou os olhos com as próprias mãos, baniu a si mesmo de Tebas e ela suicidou-se (trágicos eventos narrados por SÓFOCLES). As primeiras escavações a procura da Cadmeia micênica datam de 1906 a 1929, por A. D. KERAMOPOULIOS, conclusão de que muros micênicos encontrados nas bordas das próprias colinas confirmam a acrópole circundada por muros fortificados atribuídos a ZETO e ANFIÃO, reis de Tebas. De acordo com as narrativas de PAUSÂNIAS, a casa de CADMO era na área da antiga ágora (praça) - havia sido fulminada pelos raios de Zeus e, lugar assim sagrado, sobre as cinzas nada foi construído até os tempos do cristianismo. As escavações realizadas perto do centro da cidade, atrás do atual mercado, revelaram restos de um grande edifício micênico, destruído por violento incêndio; escavações posteriores realizadas a 40m da casa descobriram a sala do tesouro, no chão do assoalho queimado, espalhadas jóias de ouro, lápis-lazúli e ágata, objetos de marfim e 39 selos cilíndricos de lápis-lazúli, com inscrições cuneiformes de procedência oriental.

2-Saindo de Tebas, seguindo para oeste, na direção de Allartos, uma estrada secundária passa por Téspias e chega à pequena vila de Ascri, onde nasceu o grande poeta HESÍODO, cerca de 2700 anos atrás. A 2km da atual vila, um amplo vale no sopé do monte Hélicon, sagrado devido às fontes de águas miraculosas, árvores e ervas medicinais. No pico original desse monte, havia o altar de ZEUS heliconiano (no local, atualmente ruínas da igreja do profeta ELIAS, construída com as pedras poligonais retiradas do altar de ZEUS). À esquerda do caminho que sobe ao Hélicon, perto da pequena capela de Parasquevi, o santuário das MUSAS - não um templo, apenas um altar descoberto onde HESÍODO depositou a trípode que dedicou a elas após ter ganho a competição de poesia em Cálcis, na ilha de Eubeia.

3-MUSAS - Havia APOLO, protetor das ciências (pai de ESCULÁPIO), das artes (recitava canções) e amigo dos poetas - todas eram manifestações do belo e da espiritualidade - e também as MUSAS, cada qual elas com sua atribuição protetora especial: CLIO (fama, glória, reputação) presidia a narração e a história, representada pela figura de uma jovem formosa, na mão direita uma trombeta e na esquerda um livro. / EUTERPE (que encanta) presidia a música, uma flauta, oboés e outros instrumentos de harmonia. / TÁLIA (do grego ‘thaleia’, brilhante) era a deusa da comédia, jovem coroada de hera, botinas de cano alto, máscara nas mãos. / MELPÓMENE (do grego ‘melpo’, cantar) presidia a tragédia que era um grupo de grandes coros dialogados, figurada com tristeza no semblante, vestida ricamente, coroa e cetros numa das mãos e punhal na outra. / TERPSÍCHORE (do grego ‘terpo’, encantamento, e ‘choros’, dança) era a deusa da dança, tinha coroa engrinaldada, harpa nas mãos e vários instrumentos musicais junto aos pés. / ERATO (do grego ‘érato’, amável) protegia a poesia lírica, os cantores e os poetas, representada por uma jovem alegre, aos pés um Cupido com asas, arco e aljava (bolsa para guardar as flechas) de que se atribui proteção a amores e casamento. / POLÍMNIA (do grego ‘poly’, muitos, e ‘hynos’, hinos) presidia a retórica, vestida de branco, uma coroa de pérolas, atitudes oratórias, cetro na mão esquerda. / URÂNIA (do grego ‘ouranos’, céu) era dedicada à astronomia, representada como uma jovem vestida de azul, coroa de estrelas, nas mãos um globo e rodeada de aparelhos de matemática. / CALÍOPE (maviosa, harmônica, suave) era a deusa da eloquência e da poesia heróica, figurada coroada de louro e grinaldas, porte majestoso, trombeta na mão direita e na esquerda um livro - assunto principal dos melhores poemas épicos da Antiguidade: “Ilíada”, “Odisseia” e “Eneida”. --- Moravam no monte Parnaso, MS por vezes passeavam no Hélicon, no Prielo e no Pindo, montanhas. Algumas fontes, como a célebre Castália e a Hipocrene lhes eram consagradas, assim como o pequeno rio Permeso, na Beócia. O rei PIRÍNEO, dominador da Fócida, hospedou-as e, atraído pelo encantamento , quis violentá-las, mas pediram asas aos deuses e fugiram - essa alegoria representa o repúdio às belas letras e artes por quem é inimigo da cultura. No Parnaso, havia um cavalo sagrado, PÉGASO, que atendia deuses e deusas em viagens sempre aventurescas. O nascimento dele ocorreu na ocasião em que PERSEU cortava a cabeça da hidra MEDUSA e o cavalo sagrado surgiu do sangue jorrado; ao nascer, fincou violentamente as patas na terra e fez brotar a fonte Hipocrene (fonte do cavalo) na Beócia.

FONTES:

“Deuses antigos”, de Jocelyn Santos - Rio, Livros do mundo inteiro, 1970 // “O roteiro dos mitos gregos” - SP, REVISTA GEOGRÁFICA UNIVERSAL, nov./94.

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