Micrônica Artística Dois
Não se passaram muitos dias desde o último encontro, e eis que revejo meu velho amigo. Contente ele me diz: “cara, arranjei um livro de poesia”. Fiquei imaginando: será que arranjar um livro de poesias é semelhante a arranjar um buquê de flores? Esqueci meus pensamentos e perguntei “compraste de qual poeta?”. Um leve sorriso em seu rosto foi seguido pela estonteante resposta: “não comprei nada, peguei da biblioteca o tal de Lusíadas”. Confesso que fiquei pasmo. Mas comentei que sete dias talvez fossem poucos para tão dedicada leitura. Como sempre, a resposta veio melhor: “mas eu não vou devolver o livro, agora o livro é meu, embora eu não esteja entendendo nada”. Enfim, pensei explicar-lhe que pegar sem pedir e não devolver, segundo a legislação brasileira, é considerado crime, mas tive medo de barrar tão nobre expressão cultural.