UM CARNAVAL INESQUECÍVEL*

O Carnaval estava se aproximando em ritmo acelerado, numa mistura de sons e cores que já faziam parte do cotidiano, contagiando a todos com sua energia eletrizante.

Neste momento tudo cria vida, fazendo com que seus palhaços, pierrôs e colombinas renasçam após um longo tempo de dormência, para invadirem toda a cidade, através das histórias de Vó Nininha, que parecia ainda viver das lembranças do passado.

Ninguém naquela casa tinha mais tempo e paciência para suas lamúrias, preocupados apenas com os últimos preparativos para o Carnaval. Ensaiavam os passos e telefonavam pra um e pra outro, querendo juntar a galera. Mas Marquito, que ainda não tinha nem gingado e nem galera, bufava no cantinho do sofá, se remoendo de raiva porque só tinha treze anos e aquela bagunça toda era proibida para ele. Proibida por quem? Por Seu Nilton, é claro; o pai todo poderoso, aquele que se dizia o “General da Banda”.

- Marquito, há sua hora ainda vai chegar.

Só que esta hora não chegava nunca e na noite de sexta-feira a família inteira se embonecava, soltando a franga na avenida, sendo que o pobre garoto recebia a missão especial de cuidar de Vó Nininha.E o que isto significava? Simplesmente ouvir suas histórias da Carochinha, como se fossem inéditas e atuais. Depois fingir que havia adorado, já fingindo que havia adormecido.

- Pô, pai. É Carnaval... Ninguém merece!

Mais um motivo para ele ficar trancado dentro de casa, fazendo companhia àquela mulher “maravilhosa, simpática e muito criativa”.

Seu Nilton despediu-se com um sorriso maroto, cantando o hino do Timão com suas latinhas de cerveja á tiracolo, se sentindo o Galo da Madrugada.Aliás, como se fosse realmente curtir o Carnaval, porque depois que tomava “todas”, sempre tombava num canto qualquer, revirando os olhinhos.O jeito mesmo era se conformar com as histórias de Vó Nininha, rezando com fervor para que ela fosse descansar mais cedo.

PRONTO, tudo estava preparado para a Grande Festa. Marquito roia os últimos tocos de unha e não disse uma palavra, protestando contra aquela opressão. Fechou o portão mudo de raiva.Mirou Dona Nininha por rabo de olho e percebeu que ela não tinha culpa de nada .Então, para facilitar o diálogo, foi logo se espichando no sofá:

- Então, como a senhora já disse no ano passado, em 1928 colocou a sua deslumbrante fantasia de colombina e conheceu um pierrô muito “charmoso”. Um “chuchuzinho”! Ficaram se paquerando durante cinco anos, namoraram durante dez, casaram-se e o meu pai logo nasceu. Aí nasceu tia Lídia, tia Júlia, tio Eduardo...- suspirou profundamente.- E aí...

- E aí, meu querido, que naquela época ainda não existia tantas modernidades como agora...

- Sei...Não existia o computador, o celular, o DVD...

-E muito menos o preservativo.- afirmou.

Nossa mãe! Que bomba! Marquito já havia ouvido falar muito sobre preservativos e nunca imaginou que aquela mulher tão antiga, da época de 1928, pudesse estar falando sobre...

-Camisinha. Isto mesmo, meu filho.Você talvez ainda seja uma criança, mas é importante que saiba que a camisinha evita a gravidez indesejada e também as doenças sexualmente transmissíveis.Se na minha época existisse a tal camisinha, talvez hoje a história seria outra ...- suspirou.

Ela caminhou lentamente até o seu quarto, procurando um pacotinho colorido que estava no canto da gaveta.

-Marquito, este presente é pra você.

- Mas eu nem vou pular o Carnaval, Vó...

- A camisinha não é apenas para ser usada no Carnaval. Você precisa se cuidar todos os dias do ano.Quem gosta de você...é você mesmo, Marquito. Quando sentir que chegou a hora, não se esqueça dos conselhos da vovó. A gente também pode se divertir com alegria, equilíbrio e prevenção. O Carnaval acaba na Quarta-feira de Cinzas, mas a vida continua.Isto é saber Viver, meu querido!

Marquito nem acreditou no que estava ouvindo; Vó Nininha realmente entendia das coisas.Nisso ela soltou uma gargalhada gostosa, colocando na vitrola um disco de marchinhas de Carnaval. Os dois se abraçaram com um imenso carinho, rodopiando pelos cômodos da casa numa festa de emoções.Nunca se divertiram tanto!

A noite de Carnaval foi a melhor de todas, pois aquele menino, quase um rapaz, percebeu que os anos passam, mas a sabedoria, o diálogo e a confiança prevalecem sempre, unindo gerações e criando histórias inesquecíveis, como somente Vó Nininha saberia contar.

Programa de DST/AIDS da Secretaria Municipal de Saúde do Municipio de Ubatuba.