A crise chegou
A crise chegou e entrou pela porta da frente. Não fez ‘rodeios’. Infiltrou-se em todas as frestas, arestas, saliências e reentrâncias da casa de mais de noventa metros quadrados.
A crise chegou e mais que depressa se apoderou do sofá maior da sala de estar. Não permitia que as duas pessoas da casa no mesmo sofá pudessem se sentar.
A crise chegou e se apropriou de todos os cômodos da casa. Ficou tão expansiva que os moradores não conseguiam ocupar simultaneamente o mesmo ambiente.
A crise chegou e se apossou do Box do chuveiro. Jamais permitiria um banho a dois. Os banhos passaram a ser solitários e duradouros. Parecia mais um momento de refúgio.
A crise chegou e se apropriou do quarto do casal. Ficou em todos os cantos, dentro dos móveis, atrás das cortinas. Na cama, deitou-se toda ‘espaçosa’ a ponto de empurrar brutalmente os dois às extremidades opostas da cama. Nunca mais dormiram abraçados.
A crise chegou e se apossou da mesa nas horas das refeições. Foi ficando cada vez mais raro às refeições em família... Intrigas tomaram o lugar do diálogo.
A crise chegou e não era uma crise econômica. Embora, um dos dois constantemente fosse dormir com fome.