O MISTÉRIO DE NÓINHO

De repente aquele moçoilo bico doce, topetudo e cheio de babados fortíssimos para cima da mulherada, murchou! Seu mundo caiu e nada de sassarico na Boate da Zilú, nada de namoricos com as gêmeas da farmácia, nada de nada!

- Xi,acho que se embonecou de vez. - as más línguas caiam matando, dizendo sobre sua reputação.

Isto tudo aconteceu quando Nóinho tagarelava feito uma vitrola sem freio, contando uma das suas vantagens, com uma tora de torresmo grudada nos beiços.

De repente arregalou o par de olhos e parou de rir na horinha, pasmo de susto.Pronto, correu para o quarto e se trancou a sete chaves, mudinho da silva.Daí por diante começou a levar uma vida sacra.Quase santo!

E o povo falava mesmo.Uns diziam que foi praga de alguma donzela imaculada. Já outros diziam que Nóinho pirou com suas próprias idéias.

Bem feito, porque sempre quis meter o pitaco onde não era chamado.Mas agora fechou para sempre a tramela, de uma tal maneira que não punha nem o nariz na porta. Sua fama foi para o saco!

E numa dessas, seu Tinoco, o pai ressabiado, quase enlouqueceu de vez.Mandou convocar o pastor, o bispo e até o pai de santo, porém Nóinho não recebia ninguém, urrando:

- Me deixem em paz!

Era uma lamúria danada e todos queriam descobrir os mistérios daquele garanhão que havia sucumbido nas trevas.O pai passava dia e noite tentando mirabolar um jeito de ver o moçoilo de novo, de bem com a vida, com aquele seu jeito mulherengo.

Que saudades dos tempos que NÓINHO contava suas aventuras conjugais, como capítulos de um filme erótico! Talvez, quem sabe, o torresminho a pururuca estava meio passado e mexeu com seus hormônios masculinos.Ou então ele descobriu que o seu “negócio” era outro, preferindo mesmo um barbado de cirolão.

Pensaram até em arrombar a porta, mas seu Tinoco era contra qualquer tipo de violência.Nisso teve uma idéia de gênio.Pegou algumas economias e foi pessoalmente na boate da Zilú, contratando as meninas para uma noite de gala, no quarto de Nóinho .

Assim aquele rapaz calaria a boca do povo que já o chamava de boiola.Combinaram o preço de toda a coreografia.Na frente ficaria a Zilú com todas as meninas peladas, plantando bananeira.E seu Tinoco, mais que depressa, bateria as fotos de Nóinho gingando com a mulherada.Somente assim tamparia a boca daquele Zé povinho!

A grande noite chegou e o pai comia os tocos das unhas, de puro nervoso.Deu duas batidinhas na porta e silêncio total.Mas Nóinho estava lá dentro, se fazendo de morto.

Deu um assobio forte para que as meninas se posicionassem e chegaram com tudo para o momento da “virada”.Rebolavam a buzanfa de lá para cá e numa peitada só derrubaram a porta do quarto do rapaz.

Nóinho quase varou a parede, tentando fugir, mas foi grudado de jeito e prensado nos pés da cama, enquanto seu Tinoco chamava a vizinhança para assistir a mexidinha do garoto.

- Vaai, Nóinho ! - gritava, feito louco.- O BRASIL está de olho em você.

Mas que decepção! O infeliz correu para debaixo do colchão, chorando de medo.E o povo vaiou, num coro só.

Nisso um silêncio macabro.Foi quando Nóinho teve um chilique, explicando aos gritos que não era aquilo que todos pensavam.Não era um torresmo estragado, nem tampouco havia virado gay...

E arreganhando a boquinha para a luz da lua mostrou a sua banguela com lágrimas nos olhos.

Isto mesmo, Nóinho estava desdentado! Sua boca estava murcha, feito uma manga chupada.

Seus dentes haviam despencado numa mordida fatal naquele torresminho a pururuca.Foi por isto que havia morrido para o mundo, se definhando no quarto feito um noviço rebelde.

Seu Tinoco mirou a banguela rosada de Nóinho, olhou para as meninas da Zilú e num gesto de confraternização lhe arrancou a própria dentadura, engavetando a perereca com tudo na boca do filho chorão, feliz da vida por lhe ser útil num momento de dor.E não é que ficou uma graça!Parece que foi feita sob medida e desta vez a comilança rolou frouxo, porque com tamanha dentadura de cavalo, dava para Nóinho comer toda a carne do mundo e ainda sobrava espaço para roer o osso, matando todas as lombrigas de pura congestão !

Silmara Retti