Barão do Oiapoque (ao Chuí)

Meus cumpadi, bom dia. Hoji eu tô vino prá falá do meu animarzinho distimação. Si trata do galinhu garnizé, qui si chama Barão do Oiapoqui (ao Chuí). Eu achu qui o nomi dele é muitio ostentoso e purissu qui iscrevo "ao Chuí" entre os parêntises. Mas num caiam na bobagi di chamá ele só di Barão, ô di Barão du Oiapoqui, qui ele num atende messsmu, i cum toda a razão. Intonces tem qui tê u "ao Chuí" na hora di chamá pur ele. Afinar é um bichu muitio decenti qui eu comprei prá acordá a casa nu raiá du sol. Ele é piquininhu mas sabi fazê isso muitio que bem. Ele acorda sempri di madrugadinha, lá pelas quatro hora, e como é um galu cônsciu das obrigação qui lhi dei, bota o bicu nu mundo e canta quasi cem veiz, comu é o seu jeito di sê. Menus até qui num adiantava cantá, né, meus cumpadis? pruquê ia afiná sua goela, mas nem surtia efeitio ninhum. Pois qui bem. Hoji inté qui a situação é auto-sustentávi, mas já houvi tempo qui era uma guerra. Não du galu mas do seu criado aqui, cum arguns vizinhus, principarmenti u adevogadu deputadu. É qui eu fiz u puleirinhu dele na varanda, no arto, pertu du teiadu. Issu foi um êrru pruquê, cuanto mais arto mais u som si espaia e u galu ficava mais pertu da janela du quarto do sinhô. Si o tar im veiz di mandá carta anônima cuns dizeres muito poco respeitosos i civilizadus i viesse cunversá, eu ia inté intendê qui eli gosta di durmi junto cum as galinhas i acordá despois du galu. Mais isso num si deu. Na carta ofendeu u galu: "Além de cantar desafinado, (cacareja muito mal) ele é maluco..." e mais "...canta de forma intermitente e prolongada. Já chegamos a contar 113 vezes..." I terminô secamente a carta dizendu: "Meu amigo, DESLIGUE o seu galo!" . Achandu poco esse abuso, mandô a Associação du Bairro mi mandá carta, falandu di lei. Qui bestagi! U galo num era um infrator; tem uma goela boa mas num atinge us decibé qui a lei proíbe. Num si contentanu, o causídico resolveu usá suas habilidadi di pilítico. Tentô mobilizá as basis contra o galu i issu foi otro erru. Enquantu ele mora aqui só faz dois ano, eu moro já há trinta i quatro. Baixa-assinadu fajuto tamém num funcionô - num é genti qui mora distanti du Barão trezentos metro qui podi dizê qui ele incomoda. E tem mais, u gaucho doutro ladu da rua falô qui adorava u cantu du galo - lembrava ele us tempo dinfância, quandu na sua terrinha tinha galo qui acordava a rua. U meu vizinhu da frente mincontrô nu mercado, prometeu, i mandô um artigo da Rivista qui chamava "O galo e a propina" qui historiava a posição di uma juiza qui si disse impedida di julgá a questão entre dois vizinhus qui brigavam pur causa de um meru cantu di galo desdi qui u galo era também seu desafetu. Bom, despois desses acontecidus e o vizinho percebendu qui o galo dividia as opinião na rua, veio intão cunversá comigo como devia ter feito no primeiro momento antis de fazer todo esse parnavuê.

- O galo não sai não dotô, mas tô disposto a te ouvir i colaborá na solução dus pobrema, não sem lhi dizê também umas coisinhas: Primero vô falá do seu cachorro qui late a noite toda do outro ladu do meu muro. Segundo, das suas festa di arromba - político quando festeja i bebi fala muitio arto, é uma risadaria sem fim. A música treme du lado di cá inté o vrido das janelas. Festas boas, vão quasi inté a hora du galo cantá. Adispois u único vizinho qui te apoia é aquele ali du alarme desrugulado qui dispara e denuncia por uma hora i meia qui a casa tá vazia. Tem mais, qui seus fios chegam tardi da balada, entram na garagi cum estrondu. Us motoqueirus passa aqui com todu gás i o caminhão du lixo fica fazeno serenata. A Associação du Bairro num vê isso comu tamém num sincomoda qui funcione o bar chic na esquina lá di baixo onde o som é de muitia alegria. Docê num reclamei qui o micro-ondas interfere na televisão qui vejo aqui, pruquê eu mesmo num gosto di televisão. Si a Associação num vê essas coisa isso num minteressa qui eu num sô mesmo associado desdi u dia qui mi roubaru o segundo carro na frenti da minha calçada.

Mas óia, eu sei qui ocê num tem curpa dessas coisa tudinhas - u seu cachorro é necessário qui é cão di alarme i vivemo numa cidade ondi as otoridadis i a lei não garanti a segurança; das festas também num recramo, afinar é tão humano as pessoas festejá as alegrias. E as otras coisas também aconteci pruquê isso aqui tem jeito di megalópolis com seus rugidus di selva di preda.

Intonces, o galo não sai! Só arrumei pra ele dormi num lavabo i isso num vai mincomodá. Ocê lá cuida do que ocê pudé prá meiorá as coisas na cidade. E só vô lhi dizê mais uma coisa, i essa sim me preocupa: us urbanus si acostumaru com as istrepolia da cidade i quandu impricam cum os galo é pruquê ele parece coisa di roça i ocêis acha qui ocêis num é mais rocero.

Como agora nóis num tem mais nenhum pobrema, vô disisti di comprá a araponga.

Hoji ele é até um bom vizinhu, si bem qui ainda mi óia i cumprimenta meio disconfiado. U método di querê resorvê us pobremas é qui era muitio ruim. Muitio civilizado, mais parece qui tinha medo di conversá o sinão achava qui a otoridade dele passava pur cima du seu muro.