CRÔNICA – O legado da Olimpíada Rio/2016 – 23.08.2016
CRÔNICA – O legado da Olimpíada Rio/2016 – 23.08.2016
Concluída a realização do evento, que representou, sem sombra de dúvidas, grande poder de criatividade e dedicação do povo brasileiro, resta-nos começar a lançar nossas vistas no pós-festividades, melhor dizendo naquilo que chamam de legado, ou seja, o que ficou para a posteridade em termos de benefícios.
Decerto não aparecerá um só cristão nesse mundo que se recuse a aplaudir tão monumental festa de congraçamento dos povos, de mais de duzentas nações diferentes, que disputaram uma gama impressionante de jogos de variadas modalidades, todas em busca de medalhas a todo custo, notadamente a de ouro, seguidas das de prata e bronze.
Nesse particular quer-me parecer que aquela máxima de que “o importante é competir” foi pro “brejo” há muito tempo, transformando-se no vencer a qualquer custo, até mesmo por meio ilegal e absurdo como no caso do uso de “dopping”, que vem ocorrendo quase sempre nessas disputas internacionais. Em sendo verdadeiro aquele lema tradicional, desnecessário seria a desconfiança que reina entre os militantes dos diversos esportes, bastando para isso citar o agora famoso “tira-teima”, no voleibol, por exemplo, que é sempre solicitado para conferir a determinação do árbitro e recuperar um ponto eventualmente perdido. Não, com toda a certeza, o negócio é ganhar.
Num empreendimento dessa magnitude podemos dividi-lo em quatro etapas: primeira, a escolha da sede dos jogos, cujo mérito cabe, queiram ou não os seus inimigos, ao ex-presidente Lula, hoje réu em processo criminal, que não mediu esforços e nem sequer as consequências dessa monumental tarefa; depois, vem a fase de execução dos projetos de construção do parque olímpico, do entorno e das vias de acesso, que considero o mais vulnerável à prática de desvios e superfaturamento das obras, pois é justamente aí onde reina toda a facilidade de beliscar o erário; em seguida, tudo concluído, vem a vez do Comitê Olímpico Internacional (COI), que aprova o que fora feito, e finalmente se apresenta a última etapa, que é a realização dos jogos. Isso foi cumprido integralmente, salvo uma falha aqui outra acolá, mas agradou em cheio nos quatro cantos da terra.
O noticiário da imprensa nos dá conta de que foram gastos R$ 30 bilhões de reais, sendo 18 bi da iniciativa privada e 12 bi de recursos de origem governamental, isso numa fase em que o nosso Rio de Janeiro encontra dificuldades para pagar funcionários e até aposentados, numa demonstração de que em questão de preferência o povo está em último lugar, inobstante as eleições municipais que se avizinham. Mas a população é fácil de ser ludibriada e sempre leva desvantagem. O brasileiro é que não sabe se impor e nem sequer sabe eleger seus representantes nas esferas políticas dos três níveis: municipal, estadual e federal.
Carecemos de informações acerca do que vai ser feito com toda aquela área, já que as arenas vão ser desmontadas e seu material doado a instituições sem fins lucrativos. Gastaram-se milhões para construir e vão desembolsar outras quantias para desmanchar, transportar e doar, sem que se saibam dos critérios adotados nessas doações. Esses presentes deveriam ser proibidos, até por que estamos prestes a enfrentar as eleições de outubro, porquanto podem servir como compra de votos aos beneficiários. Temo que todo aquele terreno vai servir de base para a construção de luxuosos edifícios de apartamentos.
Fui e sou plenamente contrário ao evento realizado, nada obstante todo o seu esplendor, que terminou, como sempre, em samba. Um país que sofre de todas as causas possíveis e imaginárias nas áreas críticas da saúde, educação, segurança, transporte, com ênfase ao verdadeiro caos em que encontra a criminalidade, sem perspectivas de melhoras, até mesmo por conta do déficit previsto nas contas públicas para este ano, que vai à casa dos 170 bilhões de reais.
Notícias recentes dão conta de que o Japão, que sediará os próximos jogos olímpicos, está seriamente preocupado com os gastos que irá fazer para proporcionar festa pelo menos parecida com a do Brasil, e já falou que vai fazer todos os esforços para economizar ao máximo, inclusive aproveitando estruturas antigas construídas para eventos especiais... E ainda faltam quatro anos.
Quanto aos legados que ficam, podemos dizer que o despertar da juventude para a prática esportiva é o maior deles, mas é necessário apoio maciço governamental pra que os garotos possam treinar em condições melhores, sem gastar seus parcos recursos, pois há deles que nem sequer têm o que comer na hora do café, e ainda pagam passagem de ônibus para ir aos treinamentos; também podemos citar a garra e o desafio por que passaram os nossos irmãos brasileiros, voluntários, que deram uma colaboração inestimável ao sucesso do empreendimento, e não resta dúvida de que a propagação do nome do Brasil pelo mundo, com ênfase à cidade maravilhosa foram pontos positivos até mesmo para a indústria do turismo. A entrada de recursos estrangeiros no país, calculada em US$ 200 milhões de dólares, também é fator de ponderável repercussão na economia nacional.
No que tange a medalhas não dou tanto valor, até porque já sabia de antemão que não passaríamos de umas vinte (ganhamos 19). Palmas para o vôlei do Bernardinho e para o baiano da canoagem. Fiquei com pena das meninas do futebol que, mais uma vez, perderam a oportunidade de abiscoitar a primeira colocação. Não mais teremos a Marta nem a Formiga e talvez a Cristiane, por exemplo, e como essa modalidade não é bem explorada pelo país teremos dificuldades na formação de equipe de tão boa envergadura. Entendo que cada equipe que disputa o campeonato nacional das séries A e B deveria ser obrigada a manter um time feminino em suas hostes o mais depressa possível, disputando campeonatos simultaneamente com a temporada do masculino. Fariam a preliminar de cada jogo, sucesso garantido, inclusive de patrocinadores. No voleibol das meninas fomos deveras infelizes, perdemos uma partida e ficamos de fora da final... uma pena.
Agora, o que mais me impressionou foi a falta de transparência, pois não sabemos das rendas originadas da venda de ingressos para as disputas, mas temos certeza de que os estádios e arenas sempre estiveram completamente lotados. O COI não divulga e também as operações estão livres de impostos, sendo impraticável calcular-se o quanto essa confederação levou de dinheiro dos brasileiros para os seus cofres no exterior, numa remessa de lucros a meu entender completamente irregular.
Para finalizar, não me agradou a conquista do futebol, notadamente porque ocorreu em disputa de tiros livres da marca do pênalti, isso que é praticamente uma loteria, depende de sorte na hora da cobrança. Pra quem desejava um revés para salvar a alma dos brasileiros daqueles 7 x 1, na copa de 2014, foi uma decepção.
Nota: Se formos dividir os gastos (R$ 30 bi pelas 19 medalhas) temos que cada uma nos custou, em média, R$ 1 bilhão e 600 milhões de reais, em números redondos.
Nesse particular quer-me parecer que aquela máxima de que “o importante é competir” foi pro “brejo” há muito tempo, transformando-se no vencer a qualquer custo, até mesmo por meio ilegal e absurdo como no caso do uso de “dopping”, que vem ocorrendo quase sempre nessas disputas internacionais. Em sendo verdadeiro aquele lema tradicional, desnecessário seria a desconfiança que reina entre os militantes dos diversos esportes, bastando para isso citar o agora famoso “tira-teima”, no voleibol, por exemplo, que é sempre solicitado para conferir a determinação do árbitro e recuperar um ponto eventualmente perdido. Não, com toda a certeza, o negócio é ganhar.
Num empreendimento dessa magnitude podemos dividi-lo em quatro etapas: primeira, a escolha da sede dos jogos, cujo mérito cabe, queiram ou não os seus inimigos, ao ex-presidente Lula, hoje réu em processo criminal, que não mediu esforços e nem sequer as consequências dessa monumental tarefa; depois, vem a fase de execução dos projetos de construção do parque olímpico, do entorno e das vias de acesso, que considero o mais vulnerável à prática de desvios e superfaturamento das obras, pois é justamente aí onde reina toda a facilidade de beliscar o erário; em seguida, tudo concluído, vem a vez do Comitê Olímpico Internacional (COI), que aprova o que fora feito, e finalmente se apresenta a última etapa, que é a realização dos jogos. Isso foi cumprido integralmente, salvo uma falha aqui outra acolá, mas agradou em cheio nos quatro cantos da terra.
O noticiário da imprensa nos dá conta de que foram gastos R$ 30 bilhões de reais, sendo 18 bi da iniciativa privada e 12 bi de recursos de origem governamental, isso numa fase em que o nosso Rio de Janeiro encontra dificuldades para pagar funcionários e até aposentados, numa demonstração de que em questão de preferência o povo está em último lugar, inobstante as eleições municipais que se avizinham. Mas a população é fácil de ser ludibriada e sempre leva desvantagem. O brasileiro é que não sabe se impor e nem sequer sabe eleger seus representantes nas esferas políticas dos três níveis: municipal, estadual e federal.
Carecemos de informações acerca do que vai ser feito com toda aquela área, já que as arenas vão ser desmontadas e seu material doado a instituições sem fins lucrativos. Gastaram-se milhões para construir e vão desembolsar outras quantias para desmanchar, transportar e doar, sem que se saibam dos critérios adotados nessas doações. Esses presentes deveriam ser proibidos, até por que estamos prestes a enfrentar as eleições de outubro, porquanto podem servir como compra de votos aos beneficiários. Temo que todo aquele terreno vai servir de base para a construção de luxuosos edifícios de apartamentos.
Fui e sou plenamente contrário ao evento realizado, nada obstante todo o seu esplendor, que terminou, como sempre, em samba. Um país que sofre de todas as causas possíveis e imaginárias nas áreas críticas da saúde, educação, segurança, transporte, com ênfase ao verdadeiro caos em que encontra a criminalidade, sem perspectivas de melhoras, até mesmo por conta do déficit previsto nas contas públicas para este ano, que vai à casa dos 170 bilhões de reais.
Notícias recentes dão conta de que o Japão, que sediará os próximos jogos olímpicos, está seriamente preocupado com os gastos que irá fazer para proporcionar festa pelo menos parecida com a do Brasil, e já falou que vai fazer todos os esforços para economizar ao máximo, inclusive aproveitando estruturas antigas construídas para eventos especiais... E ainda faltam quatro anos.
Quanto aos legados que ficam, podemos dizer que o despertar da juventude para a prática esportiva é o maior deles, mas é necessário apoio maciço governamental pra que os garotos possam treinar em condições melhores, sem gastar seus parcos recursos, pois há deles que nem sequer têm o que comer na hora do café, e ainda pagam passagem de ônibus para ir aos treinamentos; também podemos citar a garra e o desafio por que passaram os nossos irmãos brasileiros, voluntários, que deram uma colaboração inestimável ao sucesso do empreendimento, e não resta dúvida de que a propagação do nome do Brasil pelo mundo, com ênfase à cidade maravilhosa foram pontos positivos até mesmo para a indústria do turismo. A entrada de recursos estrangeiros no país, calculada em US$ 200 milhões de dólares, também é fator de ponderável repercussão na economia nacional.
No que tange a medalhas não dou tanto valor, até porque já sabia de antemão que não passaríamos de umas vinte (ganhamos 19). Palmas para o vôlei do Bernardinho e para o baiano da canoagem. Fiquei com pena das meninas do futebol que, mais uma vez, perderam a oportunidade de abiscoitar a primeira colocação. Não mais teremos a Marta nem a Formiga e talvez a Cristiane, por exemplo, e como essa modalidade não é bem explorada pelo país teremos dificuldades na formação de equipe de tão boa envergadura. Entendo que cada equipe que disputa o campeonato nacional das séries A e B deveria ser obrigada a manter um time feminino em suas hostes o mais depressa possível, disputando campeonatos simultaneamente com a temporada do masculino. Fariam a preliminar de cada jogo, sucesso garantido, inclusive de patrocinadores. No voleibol das meninas fomos deveras infelizes, perdemos uma partida e ficamos de fora da final... uma pena.
Agora, o que mais me impressionou foi a falta de transparência, pois não sabemos das rendas originadas da venda de ingressos para as disputas, mas temos certeza de que os estádios e arenas sempre estiveram completamente lotados. O COI não divulga e também as operações estão livres de impostos, sendo impraticável calcular-se o quanto essa confederação levou de dinheiro dos brasileiros para os seus cofres no exterior, numa remessa de lucros a meu entender completamente irregular.
Para finalizar, não me agradou a conquista do futebol, notadamente porque ocorreu em disputa de tiros livres da marca do pênalti, isso que é praticamente uma loteria, depende de sorte na hora da cobrança. Pra quem desejava um revés para salvar a alma dos brasileiros daqueles 7 x 1, na copa de 2014, foi uma decepção.
Nota: Se formos dividir os gastos (R$ 30 bi pelas 19 medalhas) temos que cada uma nos custou, em média, R$ 1 bilhão e 600 milhões de reais, em números redondos.
Ansilgus