CORRE MÃE!

_ Seu Geraldo! Seu Geraldo!

Saía “para fora”, apareça! Sei que o Sr. está em casa.

Insistia com voz firme a mulher, uma mulata, dessas que “impõem respeito” pelo porte físico próxima a grade de ferro, tendo atrás de si um menino, com algumas escoriações pelo corpo, e no rosto um sorriso de alívio, pela confiança na mãe por perto, meia dúzia de curiosos, atentos à cena em pleno meio dia.

Após algum tempo a porta é aberta, lentamente saí um homem de aparência rude, com cara de inocente, coçando a barba grisalha aproxima-se um pouco, afasta o cabelo de cima da testa, descobrindo do olho direito, após soltar uma baforada, tirando o cigarro da boca, pergunta:

_ O que foi? O que é que está acontecendo aqui? Que confusão é essa na minha porta?

_ Não se faça de desentendido seu Geraldo, isso é coisa que se faça com uma criança? Onde já se viu! Um homem desse tamanho! Parece que não teve infância.

_ O que é que a senhora quer?

Sabia o seu nome, ela morava algumas casas após a sua, mas continuou falando assim para encurtar a conversa

_ Diga logo pois tenho o que fazer, estou muito ocupado.

_ O Sr. sabe muito bem... Derrubou o meu filho de cima do muro com um pedaço de tijolo.

_ Não é verdade, eu não joguei um pedaço de tijolo nele.

_ jogou sim. Meu filho não mente, e seus colegas viram!

_ Não joguei um pedaço... Joguei foi um tijolo inteiro!

_ Mas isso é um absurdo! O Sr. tem a coragem de dizer isso. Podia ter quebrado as pernas ou as costelas do menino, se tivesse acertado, e ainda acha que não errou!

_ Ah! Errei sim! Com certeza, a senhora está com razão, eu errei... A intenção não era quebrar suas pernas, nem as costelas dele, era para acertar a cabeça! Para matar mesmo! Ele queria o que? Não é gato para ficar andando em cima de muro!

_ O Sr. é um monstro, pensa que ele não tem pai?

- E não tem mesmo! Se tivesse não andava aprontando na rua.

_ Vou chamar o conselho (tutelar)

- Pode chamar... Vá chamar o pai, o tio, a polícia, esse tal de conselho, e quem mais quiser, se pisarem nessa calçada eu caio de pau. Pode ser até o prefeito!... Esses moleques, passam o dia perturbando as casas alheias. Bando de vagabundos!

_ Vagabundo é o Sr. Se eu fosse um homem, lhe daria umas porradas, é isso que o Sr. merece! E não pense que isso vai ficar assim.

Ante o tom de ameaça, (como em toda discussão) chega a hora da definição, a platéia, numa distância segura observa atentamente.

_ Vai mesmo não! Esbraveja Seu Geraldo, já estou de “saco” cheio! Chega de conversa. Esperem aí que vocês vão ver... Afasta-se rapidamente para o terraço, em direção ao monte de entulhos de construção.

O moleque agoniado, “já escaldado” sai puxando a mãe pela saia aos prantos.

_ Corre mãe! “Corre ligeiro” vamos embora, esse homem é louco!

Mariano Silva
Enviado por Mariano Silva em 23/08/2016
Código do texto: T5737439
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