NO XIBA

Contam os parentes antigos que moram na cidade de Paraty-RJ, berço da minha família paterna, que havia um outro parente de meu pai de nome Pedro Dias, que foi ativo participante de uma história, que passo a contar:

Esse tal de Pedro Dias e um amigo de nome João, resolveram ir a um xiba, na praia do Corumbê, arredores de Paraty. Explica-se: Xiba quer dizer baile popular, acho que corresponde atualmente ao nosso forró.

Saíram do centro de Paraty, atravessaram a ponte de madeira em cima do Rio Perequê-Açu, foram subindo a ladeira que passa em frente ao cemitério da cidade, no Morro do Forte, desceram do outro lado em direção à Praia do Jabaquara e em seguida, depois de caminharem por toda sua extensão, dirigiram-se ao Corumbê.

Lá chegando, o xiba já ia animado, regado à farta, famosa e gostosa “branquinha” da terra, a tão conhecida pinga de Paraty. Com aquela música saltitante e estimulante, não tardou que o Pedro Dias arranjasse uma cabocla morena e bonita, com quem se engraçou de cara.

E o xiba seguia noite adentro...

Lá às tantas, o João já cansado e sozinho, sem ter arrumado nenhuma cabocla, convidou o Pedro Dias para irem embora.

- Ah, não, compadre, o xiba tá bom demais, vê se espera um pouco mais, vai...

- Tá bem, mas só mais um pouco. Olha que temos um estirão para caminhar, viu?

E a festa continuou. Pedro Dias estava animadíssimo e João, desanimado!...

Mais um pouco de tempo e o João convidou de novo o Pedro Dias para irem embora.

- Olha compadre, vai andando na frente, que eu vou me despedir da morena e lhe alcanço no caminho. Faz isso por mim, faz.

- Tá bem, tá bem. Então lá vou eu.

Despediu-se do dono da festa, acenou para inúmeros conhecidos e saiu.

A noite estava fechada, madrugada que era; João, já quase chegando no Jabaquara, percebeu que se formava um aguaceiro daqueles. Olhou pra trás, não viu o companheiro. Apertou o passo e aí começou a chover. A princípio fraquinha, a chuva deixou que ele conseguisse subir para o Morro do Forte, mas aí despencou de vez.

Como o João olhava pra trás e não via o amigo, resolveu dar uma paradinha no portão do cemitério, onde tinha uma cobertura suficiente para livrá-lo daquele aguaceiro!

Ficou ali um bocado de tempo e de repente viu que o Pedro Dias, molhado inteirinho, transido de frio, já vinha passando bem em frente ao portão, lá no meio da estrada e o chamou:

- Ei Pedro, espera por mim.

Pedro Dias olhou para o lado de onde vinha aquela voz e, sem entender direito, só conseguiu avistar um vulto sombreado, bem embaixo da cobertura do portão do cemitério e, talvez pelo barulho da chuva, não reconheceu a voz do amigo.

Assustou-se tanto, morrendo de medo e achando que era uma assombração, que disparou a correr ladeira abaixo feito um louco e atrás dele, o coitado do João gritava:

- Ei, Pedro Dias, Peeeedro, espera por mim, vem cá, homem.

E nada. Pedro lá ia correndo pela estrada, patinando na enxurrada e no barro, cai não cai e o João chamando aos berros. Lá às tantas, já quase atravessando a ponte de madeira, meio sem fôlego, conseguiu escutar o que lhe berrava aquela voz:

- Peeeedro, espera por mim, sou eu, o João.

Parou e olhou pra trás. O coitado do João veio chegando, também ele molhado feito um pinto, ofegante, desesperado:

- Que isso, Pedro? Porque saiu correndo?

- E você não viu a assombração que tava lá no portão do cemitério?

- Assombração? Não vi, não, sô. Acho bom a gente correr pra casa!

E lá se foram os dois em desabalada carreira, sem entenderem direito quem era afinal aquela “assombração” que Pedro Dias tinha visto!!!

.

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 21/07/2007
Código do texto: T573665