Leitura
Verão em Guarapari na década de 1960. Eu passava as manhãs na praia brincando com os meus irmãos. No finalzinho da tarde minha mãe lia histórias de Walt Disney. Eu ainda não sabia ler e ficava atento aos mínimos detalhes de sua narrativa.
Em Vitória, quando já dominava a leitura, minha mãe me levava à banca de jornal para comprar revistas. Ela também comprava revistas usadas de um rapaz que vendia de porta em porta. Sua chegada era sempre muito aguardada e festejada.
Em minha casa, na sala de jantar tinha uma pequena estante com livros, revistas e cadernos. A coleção que mais marcou a minha infância foi “Tesouro da Juventude”, enciclopédia voltada para jovens e crianças, publicada inicialmente na década de 1920, e reeditada em 1958. Era composta de 18 volumes formados por vários livros, como: "Livro dos porquês", "Livro da Poesia", "Livro da Terra", "Livro das Belas Ações". Essas seções traziam textos e ilustrações sobre história, clássicos da literatura mundial, artes, contos famosos e personagens importantes. Grande ênfase era dada à área das ciências. Li várias vezes suas páginas e, até hoje lembro nitidamente das imagens ali presentes.
Durante toda a minha infância presenciei meu pai deitado na cama lendo o Jornal do Brasil. Observava a cena com muito interesse. Ao seu lado lia as folhas que ele deixava espalhadas. Meu pai também me encantava quando declamava de cor as poesias, “Cruz da estrada”, de Castro Alves e “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu. Um dia ele me mostrou o livro onde lera tais versos.
Diariamente eu passava um tempo na casa da minha avó. Ela sentava numa cadeira de balanço e lia em voz alta as notícias do jornal A Gazeta, principalmente os casos sobre as mazelas da vida. Sentado no chão, aos seus pés, nem piscava de tão fascinado.
Na pré-adolescência li muitas revistas de super-heróis: Superboy, Superman,Batmam, Fantasma, Mandrake e Thor. Durante a adolescência descobri Hermann Hesse e Kalil Gibran.
Todos esses fatos despertaram em mim o interesse pela leitura, o que hoje me dá um grande prazer. Concordo com José Castello quando diz: “A vida sempre me joga de volta no colo das palavras.