Dinheiro

Homens ricos são imensuravelmente tediosos: falam, argumentam, discutem, fazem réplica, tréplica e quantas mais "-éplicas" existirem. Batem as mãos inchadas na mesa e se acham os donos da razão.

Suam por entre suas caras vestes e por vezes seus caros ternos e sapatos de couro legítimo. Se acham os donos da razão.

Andam para todos os lados com a luz branca das luminárias enfatizando seus cabelos cinza-esbranquiçados como se fossem importantes (são?), fazendo negócio pelo celular. Se acham os donos da razão.

Se irritam com atendentes mal-remunerados que tem de contorná-los com um sorriso forçado seguido de um "Mas veja bem..." e que têm de aguentar jocosas criaturas como eles. Depois contam sobre todas as peripécias de suas vidas particulares, como se esses trabalhadores fossem seus amigos pessoais. Se acham os donos da razão.

Enquanto isso, no meio destes homens, todos homens, supostamente ricos, elegantes e quiçá importantes, encontra-se uma garota, uma estranha criatura na sala de espera de um daqueles bancos segregacionistas unicamente destinados à pessoas jurídicas, com um All-Star desbotado nos pés, cabelos provavelmente desgrenhados, com uma pasta velha ao colo apoiando um bloco de notas qualquer o qual narra a tediosa experiência de ver opulentos senhores em atendimento (e que há horas estão ali, provavelmente), enquanto necessita de menos de 5 minutos de atenção de um dos funcionários. E eles se acham os donos da razão.