O Coveiro letrado
Um coveiro, certo dia se deparou com uma autoridade política no cemitério. O simples homem afligido com a sua situação fazia o seu trabalho com muito pesar. O político disse em um tom autocrata:
- Rapaz porque está trabalhando com tanta dificuldade? Agradeça por estar empregado!
O coveiro respondeu com uma poesia incomum:
Neste estágio podrômico da vida
nada mais resta que enterrar amigos lesados
Uns que foram violados e marginalizados
Outros de tanta labuta tornaram-se suicidas.
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Sinto o chocalho fatídico dos ossos!
Em sintonia com o meu mar de remorsos
Por me deparar diariamente com a morte.
Podes sentir na pele os caroços
Aludem à perenidade de teus esforços
E jaz em cama brasida...
Agora, acostuma-te à lama que te espera!
Poderias resguardar-te, mas não é quimera
Por isso não enxergarás o colorido da vida...
O político calou-se por um tempo, pois estava atônito.
Passado um instante, ainda com a garganta meio que encadeada disse:
- Para um coveiro você até que fala bem eim?
Respondeu o homem:
- Lá no Pernambuco eu fui “alfabetzado” com o livro do Augusto dos Anjos vice!