Um cigarro.
Estava com dezoito anos e fumava, como quase todos os jovens da década de setenta, me lembro bem que gostava do "Carlton", uma caixinha vermelha e branca, que deve existir até hoje .
Estava no meu quarto estudando , como sempre de porta aberta, ou só encostada para o cachorro "focinhar " para dentro e jogar-se sobre a cama, e concentrado sobre a escrita, pois teria uma prova difícil pela frente, e o maço de "Carlton" sobre a escrivaninha, e nem me dera conta. Meu pai passou pelo corredor, parou à porta, e me disse ; " Posso pegar um cigarro ?". Fiquei branco , pois para mim ele não sabia do meu vício !
- Pode pegar pai, disse assustado ...E ele sorriu,pegando o isqueiro, acendeu o cigarro e como era do seu costume, puxou numa tragada longa e forte , olhando para cima, a moda antiga, soltando a fumaça também pelas narinas, enquanto eu o olhava. Ele fumava desde que era menino e entregava telegramas, na pós guerra, onde essas coisas eram parte de um todo, ninguém ligava, mas agora eram outros tempos, fiquei muito intimidado.
Ele nada disse, e saiu, era o jeito dele de me dizer que "tudo bem", e não mais me preocupei, pois ele me conhecia e sabia que eu era responsável. Depois fiquei sabendo que a minha mãe havia lhe contado, ela sabia o momento.
Era meu costume estudar na escrivaninha, nunca na cama, achava desconfortável, no máximo só para ler algum livro com o abajur ligado, os quartos eram muito simples, nada de TV ou computador, nada, essas coisas eram inimagináveis, rsrsss...um guarda roupa pequeno de duas portas, cama com criado e uma escrivaninha com banqueta, um poster dos "The Beatles", e nada mais. Normalmente fumava na janela, que dava para o telhado de uma garagem vizinha, super tranquilo, não deixando cheiro no quarto.
Não fumo mais desde maio de 2004, há doze anos que parei apaguei o último cigarro, mas já fumava pouco, e não senti parar, foi quando a minha mãe faleceu devido a problemas no pulmão, era uma fumante, e ainda no cemitério, parei definitivamente, me passando o seu último ensinamento.
Não faço apologias, nunca disse aos meus filhos; "Não fumem", cada um sabe o momento, deve descobrir pela própria consciência. Sou contra aquelas propagandas horríveis no verso dos maços, acho que não resolvem coisa alguma, e majorarem os impostos só aumentou o contrabando, que é muito pior. O governo não achou a disciplina correta, penso que não estão tão interessados assim.