ONDE ANDARÁ O PEREIRA ?!
ONDE ANDARÁ O PEREIRA ?!
"Minha vida é andar / por esse país /
(...) trazendo as recordações / das
terras onde passei..."
DOMINGUINHOS (trecho de canção)
No fim dos anos 70 um nome se destacou no Brasil inteiro... MARCUS PEREIRA! O cidadão citado era empresário não sei de que ramo, mas foi o maior nome da MPB durante uns 10 ANOS, pelo menos. Músico?, intérprete?, compositor?, perguntarão todos! Nada disso, êle foi o "Mecenas" dos artistas amadores, dos talentos musicais desconhecidos, de cantadores e repentistas, de percussionistas (e capoeiristas) jamais citados por revistas de música ou programas de TV.
Numa época em que o Governo Federal só tinha a FUNARTE como órgão promotor de Cultura para um país continental e para os Estados cultura feita pelo povo -- artistas amadores, principalmente -- não interessava nem um pouco, o iluminado Marcus Pereira investiu em discos LPs com todo tipo de artista, principalmente nordestinos. Fui um consumidor voraz dos lançamentos da "Marcus Pereira DISCOS" e o tenho ainda hoje como um EXEMPLO a ser seguido.
Enquanto artista amador estou cadastrado em vários portais (e sites) dedicados à Música, Literatura e Artes, como o da NATURA Musical, o VIVO e o mais aprimorado deles, o ITAÚ Cultural, entre outros. Em absolutamente TODOS fica impossível ao artista comum, amador por excelência, concluir até mesmo a inscrição inicial completa, quanto mais a participação plena, cumprindo todas as exigências. Um músico do povo não tem noções do custo de estúdio, de investimento em marketing, da complexidade de uma "tournée" (mesmo que em cidades próximas) e no cálculo impossível dos seus gastos nos próximos 6 ou 8 MESES, num país de capitalismo selvagem como é o nosso.
Por fim, êle só quer SER GRAVADO e ser ouvido... o que os programas todos, imensos nos seus artigos e parágrafos, não parecem entender. De minha parte, morrerei SEM SER GRAVADO, não pretendo mais participar de nenhum programa desse tipo. Se algum deles me quiser, terá que me convidar E TRATAR êle mesmo de toda essa "bur(r)ocracia"!
O empresário MARCUS PEREIRA "sumiu" das mentes e dos corações de um povo (e país) sem memória. Há hoje um "homônimo" no FACEBOOK, morando aqui no Pará, mas nem me dei ao trabalho de contactá-lo! Em meus primeiros dias no Rio de Janeiro, em 1968/69, voltando OBRIGADO à terra natal para o tal de Serviço Militar -- bela inutilidade desse "país de direitos", segundo um certo Adroaldo -- acabei num curso do "MADUREZA" ou "Artigo 99" que, adiante, virou "Supletivo Ginasial", lá na Cinelândia (não sei porquê?), a quilômetros de Copacabana.
O curso chamava-se "Aviação Militar" (ou seria "Souza Zípolí?), era muito frequentado e dava "carteirinha" de estudante, com a qual se pagava meia entrada nos cinemas populares, os famosos "cine-poeira". Nele conheci um "Pereira", nunca soube o primeiro nome do sujeito. Pereira conhecia bastante de Literatura, adorava poesia e, saindo do "cursinho" lá pelas 21 horas, "esticávamos" até meia-noite, num "bate-papo" interminável no Passeio Público, jardinzinho medíocre no centro da cidade. Como "quem empresta, não presta!", segundo ditado popular, êle me emprestou o livro de poesias de sua mãe, Sônia Barreto, o belo "JARDIM DA SAUDADE", de 1955, da editora "A Noite", RJ. Não só não lhe devolvi como, ao chegar ao Pará, a obra "desapareceu".
Nessa mesma época um outro Pereira -- "varapau" careca com uns 3 "parafusos" de menos "na cachola" -- atravessou o caminho de meu irmão Renato, na Capoeira carioca, mas isso "são outros 500"!
Onde andará o Pereira, com cara e tipo físico semelhante ao poeta Drummond e, hoje, com uns 70-75 anos?
O leitor ou leitora que chegou até aqui, se pergunta:
-- "Afinal, qual é o objetivo dessa crônica"?!
Explico: com os recursos modernos, com a tecnologia atual, qualquer Artista -- escritor ou músico, principalmente -- pode não apenas REGISTRAR o seu trabalho, como adiante multiplicá-lo, seja livro ou canção. Todo conjunto residencial, toda quadra dos bairros de qualquer cidade DEVERIA TER sua FILMADORA, de uns 300 dólares ou euros e, com ela, gravar o artista local.
No caso de poetas e escritores, teriam suas obras LIDAS ou declamadas, se artistas plásticos (pintura, fotografia, escultura, etc) se faria o registro filmado delas. Não é preciso uma Secretaria ou Departamento para isso, nem salas especiais, basta apenas VONTADE e dinheiro... como fez num Passado não tão distante o inesquecível MARCUS PEREIRA! O "diabo" é que esse País só pensa em... POLÍTICA !!!
"NATO" AZEVEDO (escritor e compositor) 18/agosto 2016