O Homem da Maleta Metalizada

Entrou com sorriso largo no rosto trazendo à mão uma maleta metalizada. Apresentou-se como se fosse um velho amigo ou como se acabasse de reencontrar um por acaso. Simpático e falante. Em poucos minutos estabeleceu um contato próximo, não deixando dúvidas a quem quer que olhasse à distância que se tratava mesmo de velhos conhecidos.

O bar era pequeno, mas de certa forma organizado. Para aquela localização, supria com folga as necessidades. Servia almoço e janta. Haviam duas tvs em cada uma das extremidade do estabelecimento, um conforto para os clientes. Os salgados do balcão tinham aparência de serem preparados no dia, um feito e tanto, e os atendentes eram bem comunicativos.

Ficava em uma avenida bem movimentada que cortava o centro da cidade nos dois sentidos. Naquela região, o número de imigrantes era enorme. Era como se ao cruzar cada quarteirão você ultrapassasse o limite de um país para outro.

Era uma noite quente e movimentada. No lado oposto de onde estávamos da avenida, uma grande variedade de comércios com letreiros neon disputavam a atenção de potenciais clientes que transitavam por ali. Alguns dos funcionários desses estabelecimentos jantavam no pequeno bar.

Nesse cenário, eu conversava sobre assuntos aleatórios com um amigo, pouco antes do homem com a maleta chegar. O homem era negro. Seus traços de alguma forma sugeriam que ele não era nativo do Brasil. A suspeita fora confirmada quando começou a falar com um sotaque estranho. Vestia roupas de marcas falsificadas, além de grossas correntes que envolviam seu pescoço. Haviam pulseiras prateadas nos dois pulsos e também, em um deles, um relógio bem chamativo.

Paulatinamente, colocou sobre a mesa sua maleta metalizada, um tipo de caze, e a abriu. Era como se abrisse um baú do tesouro de filmes de ação. Uma variedade de relógios, pulseiras e anéis dourados e prateados se revelaram dentro da maleta. Ofereceu-nos com entusiasmo os diversos tipos de adornos. Meu amigo entrou na brincadeira do livre comércio e começou a pechinchar. A cena lembrava um leilão em ordem decrescente de preços. Até que o homem, pressionado com a insistência de que não tínhamos dinheiro e com a argumentação contundente de meu amigo, aos poucos foi desistindo de vender sua mercadoria. No entanto, continuou por um momento no local continuando o rumo à conversa que tinha tomado a situação. Até que eu, curioso pela nacionalidade do homem, perguntei qual o país de origem dele. De pronto, respondeu-me: Senegal. E ao mesmo tempo, sua expressão facial turvou-se de uma forma instantânea. Era como se sua cabeça tivesse adquirido um peso adicional e, não suportando tal peso, paulatinamente, foi ficando cabisbaixo. Em questão de segundos, o homem da maleta metalizada foi guardando sua mercadoria e aos poucos se retirando do local sem dizer mais nenhuma palavra.

Qual seria a história daquele homem? Pelo o que teria passado para chegar ao Brasil? O que teria o levado a deixar seu país de origem? A resposta de todas essas questões e outras seguiram os passos daquele homem avenida afora.

Clayton Silva de Lima
Enviado por Clayton Silva de Lima em 16/08/2016
Reeditado em 16/08/2016
Código do texto: T5730095
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.