Quinze minutos

          Uma linha reta da minha casa até o centro da cidade onde moro. Uma linha reta passando por um lugar onde tem uma pirambeira (alguém mais usa essa palavra?). Um medo quando passa um carro! Medo de ficar espremido entre o muro e a rua. Medo de que alguém abra o carro. Medo. O tempo todo passando durante esse período, sentindo medo de ser assaltado, medo de bala perdida, medo de quem vem na direção contrária – não precisa ser tarde da noite.
          Nos muros eu vejo: “Dane-se o sistema”, “Fora o presidente”, “Se eles não nos deixam sonhar, não vamos deixá-los dormir”. De pessoas esquecidas, pseudo-intelectuais, mero copiadores de frases sem sentido ou que, quem sabe, fazem todo o sentido do mundo.
          Temos todo o tipo de coisa durante o caminho. Tem árvores, tem flores, buracos, lixo, casas arrumadas e casas abandonadas. Sonhos esquecidos e entulhados e sonhos totalmente devastados. No chão, um ser humano que talvez ainda sonhe. Sol a pino. Que sonhos serão esses que os levaram aonde estão agora?
          Quinze minutos.
          Eu vou andando e vou vendo. Vendo o que antes eu não enxergava. Enxergando o que antes eu sequer via.
          Chegando no centro da cidade, chego no meio de uma festa. Uma festa! Quer ironia.
          Ai, são mais quinze minutos voltando! Mas aí já é caminho contrário.
Solimar Silva
Enviado por Solimar Silva em 16/08/2016
Reeditado em 08/05/2020
Código do texto: T5729990
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