Sobre águias, lobas ou simplesmente completar 40 anos!
Antes de completar 30 anos tinha uma ideia bem distorcida do que isso significaria em minha vida, enfim achei um livro, ou melhor O LIVRO, A mulher de 30, de Honoré de Balzaq; que entre tantas outras coisas, me ensinou a olhar a nova idade de um jeito, digamos, mais carinhoso. Entre várias pérolas do livro, uma em especial saltou aos meus olhos, ávidos para compreender e se deliciar com essa nova fase: “Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis”, e lá vai o autor descrevendo tais atrativos, que se eu não os tinha ou não sabia os ter, acabei por adquirir.
Assim, meus 30 anos transcorreram não tão suaves, não tão felizes, mas com certeza, foi uma década intensa. Muitas experiências, algumas boas, outras nem tanto, porém todas inesquecíveis, aliás, essa é a expressão do momento para mim. Vão lá alguns dos fatos: nasceram três filhos, fiz uma pós graduação grávida, um curso intenso sobre gênero e diversidade que mudou muito meu jeito de olhar o outro (há, também estava grávida) compra da casa própria, encarar um novo emprego numa área bem diferente da que havia me preparado (grávida de novo!!!), uma paixão sem paixão rsrs (estar apaixonada pela ideia de ter alguém e não por esse alguém), a redescoberta do prazer de escrever, voltar pra o lugarzinho de onde saí para fazer um trabalho deixando lá minha marquinha, a vontade de escrever um livro sobre esse lugar (um dia sai). Muitas perdas... tias, avós, amigos.
Quando ia completar 39, último ano da dita década maravilhosa, achei por bem comemorar. Celebrar a vida, celebrar o último ano de balzaquiana. E olha... que ano! Vivi dos 39 aos 40 uma gama de situações novas e intensas que forjaram uma mulher incrível que estou aprendendo a amar cada vez mais. Talvez o termo forjar não seja realmente o adequado, me desculpe caro leitor ou caríssima leitora, mas também amo essa palavra, rsrs. Então, reformulando: vivi dos 39 aos 40 uma gama de situações novas e intensas que despertaram uma mulher incrível, uma guerreira, uma pessoa apaixonante que sempre esteve aqui, escondidinha dentro de mim, com medo de ser criticada, com medo de brilhar, com medo de ser intensamente feliz. Foram tantas coisas acontecendo, foi tanta mudança repentina que novamente fui buscar nas minhas leituras, força e inspiração para encarar os 40. Encontrei duas leituras perfeitas: a fábula da águia e o termo idade da loba. De acordo com a lenda a águia é a ave com maior longevidade, porém ao completar 40 anos, precisa passar por um difícil e doloroso processo de renovação para poder então viver com magnitude o resto de sua vida.
Agora, os fatos dessa águia que vos escreve: deixei um cargo que já ocupava há mais de 10 anos, assumi novas e desafiadoras tarefas, aprendi a dizer não, a me posicionar, a ser exigente, a não ter medo de ser chamada de chata e mandona, perdi a fé na humanidade, recuperei a fé na humanidade, aprendi a dirigir (urrruuu!!! Liberdade, liberdade), me divorciei, me inscrevi para concorrer a duas vagas num curso representando meu estado em Brasília, fui para Brasília, voltei de lá amando ainda mais o meu país, as minhas cidades (de onde sou e para onde vim), e o melhor, aprendi a amar ainda mais a mim mesma.
Sobre ser loba, ainda estou aguardando as experiências, só sei que comemorei muito a chegada dessa idade, foram muitos parabéns pra você, parece que completei 40 anos muitas vezes. Jamais esquecerei: no ônibus em meio ao trânsito e novas sensações de Brasília, no aeroporto, com novos velhos amigos de diferentes partes do país (até chorei), na minha linda e querida Maceió, recebida pelas primas, e enfim com meu bolo de loba, pensado e desejado desde o bolo dos 39 rsrs.
Como um amigo bem colocou: um ciclo, um que já passou, outro que se inicia, e esse com grandes vantagens sobre o primeiro: experiências, aprendizagens, coragem, vontade de viver, gana por ser e fazer feliz.
De tudo isso, uma única lição, não importa se é 20, balzaquiana ou loba, ou se já chegou a idades cujos segredos ainda desconheço, o essencial é SER. Ser plenamente verdadeira e amante de si mesma (sem complexo de narciso, claro), é olhar a vida com coragem, sem medo de ser feliz!