Fama Difamada
A fama difamada de Timóteo crescia a cada dia graças ao seu jeito de aparecer para a galera como o mocinho “bico doce”, que não resistia a um rabo de saia, caindo de quatro no chão.
Beliscava daqui, ciscava dali, mas dizia com a boca cheia, que preferia continuar solteiro só para não ter perturbações futuras.O seu negócio era apalpar a fruta, ver se era boa, comer rapidinho e depois jogar fora o bagaço.Nunca se apaixonou de verdade.
- Casar, nem morto!
Ele se gabava em ter ficado com fulana, cicrana e o resto era o resto.Já era passado, porque para ele mulher se resumia num pedaço de couro, pronto apenas para o uso.
Timóteo se auto promovia, fazendo propaganda aos quatro ventos sobre os seus dotes físicos.
Que produção! Trocava de parceira como mudava de chinelo.
O picareta só andava no meio de homens barbado, botando a maior panca do mundo, pra depois dormir abraçado ao travesseiro.E este detalhe era segredo de Estado.
Ele tinha vergonha,morria de medo e se borrava todo em pensar que alguém poderia descobrir o seu lado murcho, triste e caído.O seu lado amuado, sempre para baixo, que na verdade não levantava nem com guindaste.Pobre Timóteo! Era um flácido, totalmente morto para o mundo, para os prazeres do sexo.
TUDO que inventava para os outros era balela! Ele já tinha desencarnado há muito tempo, deixando uma pelanca pálida no lugar.Que desgosto! Aquilo ali não servia nem de isca para pesca e nem para fazer sabão.
Timóteo era tinhoso, cabra macho e empinava o topete como se fosse o fura bolo do pedaço, proclamando para os amigos o que imagina ter feito, na calada da noite.
Mentira pura, porque ele nunca namorou em toda a sua vida e a única vez que conseguiu beijar na boca foi quando sua cadela velha lhe deu uma lambida no beiço e o coitado gamou!
Só que o pessoal já estava meio desconfiado dos tererês de Timóteo, porque o bonitão falava muito, mas sempre vivia sozinho pelos cantos .
- Isto não vai acabar bem.- pensava.
E imaginando estar com suas mentiras por um fio, resolveu ir para a guerra, apostando todas as suas fichas num romance fingido e muito bem pago que viveria com a bonitona da Silvinha.
Ela, com os olhos piscando de emoção,espalharia para o povo que Timóteo era um cabra macho daqueles.Que bibibi e bobobó !
Enquanto combinavam o valor da tramóia, escondidos no barraco de Timóteo, ela que sempre foi muito profissional e acima de tudo xereta, quis saber o motivo para tamanha falsidade.
Foi assim que o abobado, roxo de timidez, lhe contou que era um simples donzelo.As histórias que inventava para os amigos só lhe serviam de consolo.Suas noites eram de profunda solidão e nostalgia, passadas em claro, se remoendo de tristeza.
Ela não se conformou com a sua lamúria, lhe jogando no chão como um tapete surrado.Quase matou o pobrezinho de susto, pondo a prova à infelicidade do rapaz.
Com muita malícia, ela sussurrou no seu ouvido que a maior dificuldade de todas é vencer o nosso próprio medo; o medo de tentar. Era preciso ter coragem para enfrentar cara a cara qualquer situação que nos incomode.Após uma noite inteira de “conversação”, Silvinha deixou Timóteo cantarolando alto e feliz da vida, com o cheque amassado no canto da cama, porque aquele acerto de contas, ah, aquele acerto não tinha preço que pudesse pagar tamanha satisfação!
Silmara Retti