Crônica sobre uma vila
Assis Silva
A vida corre como uma segunda feira, preguiçosa e sem pressa. Lugar pacato e sem encantos para um olhar não poético e sem brilho, afinal, a feiura e o paraíso só dependem de como olhamos as coisas. Para um olhar desatento todo dia é segunda feira ou quinta ou sexta ou domingo, não importa, são iguais.
Casas de barro batido se entrelaçam nas alvenarias que tomam seus espaços e dão outra paisagem. Recanto de pessoas simples, trabalhadoras, cheias de sonhos nunca falados, guardados no porão existencial. A vida gira em torno da capela de São Benedito, o santo negro e sofredor, identidade desse povo, que tanto chora a partida de seus filhos, que partem à procura de um lugar ao sol. E aqui a vida só continua sem pressa do fim.
Igarapé Grande, um desses lugares que parece perdido na grande floresta amazônica, mas bem encontrados por tantos, e o que importa, é o encontro. O encontro no domingo à beira do pequeno rio, na capela para louvar a Deus, no campo para a partida de futebol ao fim da tarde, na doença de algum membro da comunidade, ou em algum óbito em que todos tomam as dores da família. Como uma comunidade, têm lá seus defeitos, encantos e desencontros.
Um lugar de sossego e aconchego, onde as crianças ainda brincam na rua sem medo do perigo, em que o perigo do ar tóxico da tecnologia macabra ainda está longe de chegar às suas narinas, embora vá chegando aos poucos de forma tímida. Onde ainda é possível sentir a terra nos pés e tomar banho no rio gelado, que lava a alma e banha o corpo cansado. Enfim, um recanto para se começar .... E terminar o grande dom da vida.