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     OS OLHOS DO TIGRE.
 
        E então ficamos frente a frente , apenas separados por uma resistente grade de aço . Podia ouvir ao longe o cantar de vários  pássaros que aquela hora da manhã já estavam bem alimentados  e não era difícil imaginar como estariam voando pelos galhos do seu enorme e barulhento cercado .
        Crianças   brincavam um pouco mais adiante , e como se nada ou ninguém estivessem por perto, ele e eu nos encarávamos e nenhum dos dois abaixou cabeça ou simplesmente ensaiou um piscar de olhos .
        Aquele majestoso tigre, dono absoluto do confortavel espaço que dividia com uma fêmea me olhava fixamente . Não sei o que estava passando pela cabeça dele ao me olhar daquela maneira mas, eu também não desviei o olhar . Ciente de que uma grade nos separava e por estar parado a uma distância segura, longe do alcance das suas garras, não deixei de olhar fixamente para o belo animal .
         Era como , digamos , um bizarro duelo onde um ser humano e um animal estariam competindo para ver quem tinha o olhar mais firme, mais penetrante e mais intimidador .
        Não fazia a menor ideia do que o tigre poderia estar imaginando mas com certeza deve ter chegado a conclusão e comentado com suas listras que na frente dele, separados por uma grade de aço estava um sujeito muito atrevido que também tinha uma forma de olhar poderosa, um olhar vivo e penetrante .
       Pode parecer surpreendente mas naquele momento, na verdade por alguns minutos, ele não  deve ter sentido nenhuma fagulha de abuso , ao contrário, o meu olhar era de respeito, uma espécie de reverência ao poderoso e majestoso amigo que estava ali preso, talvez ou melhor, com certeza de uma forma injusta já que seu lugar não era ali, servindo de diversão para visitantes e crianças que não lhe davam o devido valor.
       O tigre deve ter entendido a intenção , quem sabe a força do meu olhar tanto que percebi claramente que aquele ar inicial de intimidação desapareceu das suas feições e, guardadas as devidas proporções, me pareceu que um brilho de carinho  e também de respeito partiu dele.
       Relaxei um pouco, diminui a intensidade do  olhar , abri um tímido sorriso e para minha surpresa, parecendo ter entendido meu recado, o belo animal se aproximou mais um pouco da grade e dessa vez com um jeito bem mais camarada .
       É claro que não saí do meu lugar , mas foi um instante mágico aquela troca de olhares . Eu, tentando transmitir ao meu novo amigo que não concordava de forma nenhuma que ele estivesse ali embora, pela sua aparência e a da companheira , tivesse  a certeza que estavam sendo bem tratados .
       E ele, o tigre rei, me passou a sensação de que preferia estar correndo pelas matas, nadando por águas calmas de rios claros e tendo o direito de ir e vir até onde bem entendesse.
        Me afastei daquela jaula e depois de alguns passos olhei para trás . O tigre continuava no mesmo lugar, ainda me olhando fixamente .
       No momento, sem saber bem o que fazer balancei as mãos como pudesse ser um sinal de que voltaria brevemente para nova troca de olhares .
        Senti que ele me acompanhou até que  desaparecesse do seu campo de visão .
         Muito bom reencontrar amigos...



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                 ...este texto foi publicado originalmente em  30/04/2013 e hoje resolvi trazê-lo de volta porque me lembrei da cena ...










(...só a primeira imagem que é do google...)
WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 15/08/2016
Código do texto: T5729439
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