Amor de Macho

Dizem as más línguas que todo velho é um porre, mas um velho pobre, porque quando se tem dinheiro, a conversa é outra.Até o jeito de falar muda de figura: O GRISALHO, é claro.

Então Berlindo era um coroa elegante que estraçalhava corações com sua carteira “sexy” e muito bem apessoada. Que fofo!

Estava com um pé na cova, mas esbanjando charme por todas as rugas.E para completar tamanha beleza pré-histórica, aquela múmia ensopada, era solteira.

Isto mesmo, Berlindo não tinha ninguém nesta vida; nenhum parente interesseiro que precisasse dividir sua riqueza, contando com seus préstimos.A mulherada da rua crescia o olho, fazendo mil promessas ao pé da Santa, porém ele era osso duro de roer e não dava pelota para ninguém.Aliás, não dava nada de nada há um bom tempo.

Preferia ficar sozinho cheio de reumatismos, artrite, trombose e bico-de-papagaio, mas acumulando tostão por tostão a cada dia.

- Ah, que bebezinho rebelde!- gemiam pelos cantos.

Berlindo ignorava o assédio público, porque simplesmente se achava passado, feito um quiabo murcho de final de feira.Este era o seu segredo jurado e sacramentado a sete chaves.Pobre Berlindo rico!

Era falecido da cintura para baixo e guardava os restos mortais dentro do próprio pijama, feito um túmulo sagrado.

Quem seria a sortuda que levaria este troféu para casa: Maria, Joaquina ou Tereza? Durante anos fez charminho e a sua vida íntima era um mistério.Mandavam bilhetinhos de amor, foto erótica com frente e verso, calcinha perfumada e nada.

Berlindo continuava fazendo sucesso com sua carteira rechonchuda que mais parecia um guarda-roupa, desfilando de lá para cá, solitário e amuado.

Até que de repente seus olhos se cruzaram e foi um show de emoções.Berlindo arrepiou-se todo, feito um periquito no poleiro, indefeso diante de tamanha revelação.Estava ali diante dele a coisa mais linda do mundo !Ah, que pedaço de mau caminho ...

Era nada mais, nada menos, que Maurão; um “gorila” de quase dois metros de altura, macho que dói. Foi um choque térmico: amor à primeira vista.

- Ufa, que frenesi! - Berlindo suava frio.

Epa, sai de cima urubu, porque Maurão não era disso e nem daquilo!Estava muito bem casado, era professor de musculação e um homem de verdade .

Só que Berlindo assumiu a bronca, desfolhando-se todo feito uma flor: era pegar ou largar.Oferecia casa, comida e roupa lavada.Bastaria dizer sim e estariam casados, para sempre, numa cerimônia íntima e nada religiosa.

No começo Maurão mostrou o muque e Berlindo a carteira.Maurão falou grosso, bateu o pé e esculachou o outro em praça pública. Deu chilique, desmaiou de raiva, sapateando as tamancas para depois se acostumar com a idéia.Tudo bem que ele era espada, mas nem tanto assim:

- Dinheiro para as compras, viagens, passeios, curtição ...Que delícia!- suspirou Maurão, já com a cabeça virada.

Pensou melhor sobre o assunto e garantiu que sua varinha de condão mágica ressuscitava até defunto.E mediante um pagamento “simbólico” caiu de quatro pelo coroa apaixonado e não deu vexame, sem preconceitos, porque é dando que se recebe, e um milagre assim não tem preço, levantando o próprio morto para os prazeres da Vida.