Honra Nacional?
"É tudo ou nada. A CBF vai pagar 100 mil dólares a cada um dos 18 jogadores. Mas só pelo ouro. É para isso que estamos aqui na Inglaterra. Se ele não vier, não há premiação." José Maria Marin, antes das Olimpíadas de Londres.
Quatro anos depois, nas Olimpíadas do Rio, o Comitê Olímpico do Brasil promete R$ 35 mil por medalha em esportes individuais e R$ 17,5 mil para cada atleta em esportes coletivos, menos no futebol masculino, onde estão em jogo R$ 327 mil para cada jogador. De novo, é tudo ou nada. E pelos primeiros resultados, dois empates sem gols contra seleções fracas e uma vitória, caminhamos para o nada. Enquanto isso a seleção feminina, que nada tem com o pato, faz sua parte, involuntariamente alimentando discussões sobre qual dos gêneros usa salto alto no gramado e por consequência uma rixa doméstica sem pé nem cabeça, como se as seleções feminina e masculina competissem entre si em vez de ambas pelo país.
Em meio a tudo, há quem peça paciência com a seleção masculina e fabrique justificativas para o mau desempenho, entre as quais:
1. A questão de insegurança e organização, como se fosse um problema de treinador e elenco. Entra treinador, sai treinador e nada muda; entra elenco, sai elenco e nada muda.
2. A questão da expectativa do público, como se resultados não fossem absolutos. Goleada não deixa de ser goleada e empate não deixa de ser empate em função da expectativa criada para o jogo. Ou esperar mais que um empate contra a seleção do Iraque é esperar demais?
3. A questão da pressão tanto do público quanto da imprensa, como se ela não pesasse sobre atletas de qualquer esporte ou modalidade. Por incrível que pareça, esses são os representantes de quem escolhemos cobrar uma compensação pela vergonha nossa de cada dia, e que bem ou mal seguem na luta por medalhas — ou, como queira, pela honra nacional. Ora, se Rafaela Silva, Diego Hypólito e a própria Marta foram capazes de dar a volta por cima depois das críticas duríssimas sofridas nas últimas olimpíadas, a pressão está longe de ser fator determinante de fracasso, embora na esmagadora maioria dos casos também não contribua para sucesso.
O problema é crônico; não depende de técnica, expectativa ou pressão, e sim estrutura. E qual a diferença estrutural entre o futebol feminino e o futebol masculino no Brasil? Divulgação, público, patrocínio. Como se não bastasse a fortuna que os craques da seleção masculina recebem de seus respectivos clubes, parecem precisar de incentivo extra para correr atrás do primeiro ouro olímpico. Ou seja, estão nos dando uma banana, e se vencerem será por acordo financeiro ou de outra natureza. Quem sofre ainda mais com isso são nossas jogadoras, punidas pela mídia por brilhar mais que nossos jogadores. No terceiro jogo houve, além de narrador cobrando Marta com 15 minutos de jogo, câmera destacando torcedores que deixavam as arquibancadas depois do apito final, dando ares de protesto a um comportamento absolutamente corriqueiro. No quarto jogo houve câmera “flagrando” Marta sair do campo direto para o vestiário depois de um primeiro tempo sem gols. Diante dessa situação, ficam as perguntas:
1. O débito é de quem?
2. Estamos mais interessados no espetáculo ou na competição?
3. A honra nacional mora no quadro de medalhas olímpicas?