UM SONHO INESQUECÍVEL
Abro os olhos devagar, e lá estão elas, bailando rente a vidraça, num ritmo leve, alvas como flocos de algodão. Estico um pouco mais o olhar, e vejo os primeiros raios de sol, beijando as águas do imenso rio.
Fico quieta, sem mover um músculo, bendizendo aquela divina visão. Primeira do meu dia.
Em silêncio, aprecio o voejar das gaivotas, passo em revista o sonho que estava tendo ao despertar. Não quero perder, ou esquecer cada detalhe dele, por isso tento alinhavá-lo em minha memória.
No sonho, eu estou em um recinto adornado por mobiliário antigo, muito antigo.
Imensas estantes, exibem livros, centenas e centenas deles. Todos de capas em tons de madeira.
Eu não tenho a aparência física de hoje, mas me reconheço pela minha essência. Envergo um corpo com idade próxima aos 40 anos. Cabelos da cor da amêndoa madura, preso atrás da cabeça, formam um coque. Um vestido longo, cor de manteiga, e sapatilhas brancas, compõe meu figurino. Chama-me a atenção um camafeu, que pende do pescoço da jovem senhora. Pela delicadeza da joia.
Os olhos expressivos e curiosos, mostram vivacidade, ao reter entre as mãos um livro, e bebem de cada linha que percorrem com vontade.
Em seguida, ela fecha o livro, e em passos rápidos alcança uma escrivaninha de mogno, de pés ricamente talhados, sobre ela, descansam muitos livros, dezenas de folhas de papel virgem na cor palha, e ao lado delas um tinteiro prata com um dragão esculpido. Vejo-a tomada por um leve frenesi, apossar-se da pena, que até aquele momento jazia calma dentro do tinteiro.
E como quem tem medo de perder algo, escreve, só para para mergulhar a delicada pena no tinteiro, e retirá-la encharcada do precioso líquido, que vai dando vida as ideias que fervilham em sua mente.
De repente, eu que ali estou assistindo emocionada aquela cena, - pois no sonho, sei que estou me vendo em uma vida que já vivi. - Vejo atrás da jovem senhora, que escreve sem parar, alguém invisível aos olhos físicos, que sopra à ela, ideias, e vez ou outra toca-lhe de leve a mão que conduz a pena, e nesse instante percebo claramente, a agilidade que toma conta do rudimentar instrumento.
No sonho, as lágrimas jorram pelos meus olhos de expectadora de uma cena, vivida por mim, quem sabe em priscas eras.
Algo me diz, que tenho que voltar, que meu tempo ali, já acabou, mas o cenário calmo, naquele imenso salão, repleto de livros, e de objetos antigos, desperta em mim, uma vontade imensa de ficar.
O silêncio no local é total, somente o fogo que crepta em uma enorme lareira, vez ou outra, faz estalar a lenha que ali queima.
Por um instante a mulher para de escrever, ergue o rosto, e olha em minha direção, nossos olhos se encontram e vejo os meus nos dela. Seu rosto está banhando de lágrimas, resultado da emoção que a inspiração lhe confere.
Apenas frações de segundo, e ela baixa novamente o olhar para o papel, e continua a escrever com determinação.
Lembro-me ainda de olhar para fora das altas vidraças que havia no salão, e lá fora a paisagem era branca. Nevava muito.
Em seguida acordo! Abro devagar os olhos, busco encontrar aquele cenário que muito me impressionou e tocou de muito perto. Mas, o que vejo é o dia que rompe, e afasta as sombrias cortinas da noite, e gaivotas a voarem rente a minha vidraça
Por certo um sonho que jamais vou esquecer.
(imagem: Lenapena - East River)
Abro os olhos devagar, e lá estão elas, bailando rente a vidraça, num ritmo leve, alvas como flocos de algodão. Estico um pouco mais o olhar, e vejo os primeiros raios de sol, beijando as águas do imenso rio.
Fico quieta, sem mover um músculo, bendizendo aquela divina visão. Primeira do meu dia.
Em silêncio, aprecio o voejar das gaivotas, passo em revista o sonho que estava tendo ao despertar. Não quero perder, ou esquecer cada detalhe dele, por isso tento alinhavá-lo em minha memória.
No sonho, eu estou em um recinto adornado por mobiliário antigo, muito antigo.
Imensas estantes, exibem livros, centenas e centenas deles. Todos de capas em tons de madeira.
Eu não tenho a aparência física de hoje, mas me reconheço pela minha essência. Envergo um corpo com idade próxima aos 40 anos. Cabelos da cor da amêndoa madura, preso atrás da cabeça, formam um coque. Um vestido longo, cor de manteiga, e sapatilhas brancas, compõe meu figurino. Chama-me a atenção um camafeu, que pende do pescoço da jovem senhora. Pela delicadeza da joia.
Os olhos expressivos e curiosos, mostram vivacidade, ao reter entre as mãos um livro, e bebem de cada linha que percorrem com vontade.
Em seguida, ela fecha o livro, e em passos rápidos alcança uma escrivaninha de mogno, de pés ricamente talhados, sobre ela, descansam muitos livros, dezenas de folhas de papel virgem na cor palha, e ao lado delas um tinteiro prata com um dragão esculpido. Vejo-a tomada por um leve frenesi, apossar-se da pena, que até aquele momento jazia calma dentro do tinteiro.
E como quem tem medo de perder algo, escreve, só para para mergulhar a delicada pena no tinteiro, e retirá-la encharcada do precioso líquido, que vai dando vida as ideias que fervilham em sua mente.
De repente, eu que ali estou assistindo emocionada aquela cena, - pois no sonho, sei que estou me vendo em uma vida que já vivi. - Vejo atrás da jovem senhora, que escreve sem parar, alguém invisível aos olhos físicos, que sopra à ela, ideias, e vez ou outra toca-lhe de leve a mão que conduz a pena, e nesse instante percebo claramente, a agilidade que toma conta do rudimentar instrumento.
No sonho, as lágrimas jorram pelos meus olhos de expectadora de uma cena, vivida por mim, quem sabe em priscas eras.
Algo me diz, que tenho que voltar, que meu tempo ali, já acabou, mas o cenário calmo, naquele imenso salão, repleto de livros, e de objetos antigos, desperta em mim, uma vontade imensa de ficar.
O silêncio no local é total, somente o fogo que crepta em uma enorme lareira, vez ou outra, faz estalar a lenha que ali queima.
Por um instante a mulher para de escrever, ergue o rosto, e olha em minha direção, nossos olhos se encontram e vejo os meus nos dela. Seu rosto está banhando de lágrimas, resultado da emoção que a inspiração lhe confere.
Apenas frações de segundo, e ela baixa novamente o olhar para o papel, e continua a escrever com determinação.
Lembro-me ainda de olhar para fora das altas vidraças que havia no salão, e lá fora a paisagem era branca. Nevava muito.
Em seguida acordo! Abro devagar os olhos, busco encontrar aquele cenário que muito me impressionou e tocou de muito perto. Mas, o que vejo é o dia que rompe, e afasta as sombrias cortinas da noite, e gaivotas a voarem rente a minha vidraça
Por certo um sonho que jamais vou esquecer.
(imagem: Lenapena - East River)