A Guerra dos Meninos #

As crianças pediam em oração, com as mãozinhas postas, um futuro mais decente, onde pudessem ter Paz.

Suas mães, seus pais...Todos nós pedíamos em oração um consolo para nossas lágrimas mais sentidas, para as nossas dores mais doloridas; para a nossa falta de certezas que certamente nos deixam cada vez mais incertos, porque elas não são capazes de nos colocar de pé.Porque apenas sabemos pedir; implorar por uma luz, sendo que não temos a atitude de acender nosso próprio caminho.

Assim todas as orações foram recolhidas por um Anjo que as uniu em apenas uma, pedindo a Deus que nos amparasse mais uma vez.

Isto mesmo, como foi feito há dois mil anos atrás, quando estávamos perdidos e cheios de medo.

Deus, em sua Sabedoria e Bondade Suprema, de Pai Amoroso e dedicado quis recomeçar uma Era de Amor.

Precisávamos de uma nova chance, com os velhos ensinamentos, ditados e exemplificados pelo mesmo Mestre de sempre.Mas agora tudo seria diferente, pois já conhecíamos o valor do Cristianismo e o receberíamos de braços abertos em nosso berço fraterno, nos dias de hoje, o consagrando no altar dos nossos corações.

Deus preparou o ambiente, convocando seus anjos mais iluminados ao trabalho, e no dia 25 de dezembro uma Luz clareou o mundo, de novo, nascendo entre nós para que pudéssemos dar vida as nossas preces.Pronto, voltou o Consolador tão esperado...o Rei dos reis ! Como antes, exatamente igual.

Só que ninguém reparou, pois esperavam o Filho de Deus sentado num trono de ouro e Ele preferiu nascer em uma favela; pobre, faminto, mal tratado pelas diferenças sociais e sentindo na pele que não mudamos em nada.

Dois mil anos se passaram e continuávamos os mesmos traidores, incrédulos e covardes de sempre. E aquela criança bendita, que nasceu para trazer a sua lição de vida, foi apontada, condenada e ignorada por um povo que diariamente lava suas mãos. Como antes, exatamente igual.

Nós já conhecemos esta história e nos emocionamos com o sofrimento daquele menino; com os ensinamentos daquele homem, com a injustiça sofrida por aquele Anjo.

Mas Ele, no dia 25 de dezembro, renasceu no meio de nós e está aqui e ali, dormindo nos calçadões frios desta cidade; com fome e com frio, perdido ou passando na nossa frente todos os dias sem nunca percebermos a Sua presença! Porque simplesmente não é o meu filho, nem o seu. É apenas uma criança inocente e nós não a recolhemos para dentro da nossa casa, da nossa alma e do nosso coração.

O tempo passou e vencendo as dificuldades impostas pelo descaso, começou a sua caminhada ensinando novamente sobre a caridade.

As pessoas lhe rodeavam para ouvir, porém não lhe compreendiam.Talvez fosse um louco e preferiram lastimar o próprio destino, reclamando o que eram infelizes e esquecidas por Deus.

Só que aquele Anjo não se calou em nenhum momento, apesar de que ninguém lhe deu importância.Estavam preocupados com seus interesses pessoais e não tinham olhos para enxergar nele, o Amigo Eterno.

Novamente, como há dois mil anos atrás, não lhe deram valor.Estavam cegos, surdos e mudos!

Ignoraram a verdadeira razão da sua volta e outra vez foi banalizado, humilhado e crucificado.

Por mim, por você e por nós...Por todos aqueles que ainda não aprenderam com Ele que quem recebe uma criança em seu nome, é a Jesus que recebe.Que bem aventurados os que têm sede e fome de justiça.Os que são misericordiosos, limpos de coração e pacificadores.Somente assim enxergaremos com os olhos da alma que Jesus está muito mais perto que podemos imaginar e bate todos os dias em nossas portas, porém nunca o convidamos a entrar.Talvez não o reconheceríamos também, deixando-o ao relento, murmurando mais uma vez com os olhos perdidos no Céu:

- Pai, perdoe.Eles ainda não sabem o que faz!

JORNAL A CIDADE - setembro -2006

Silmara Retti