RENASCER
Voam os pássaros, voam os aviões, almas viajam, pairam no ar, cuidam dos viventes, observam e velam. São olhos de Deus, com são os anjos.
Assim ele pensava, enquanto que, com os olhos rasos d’água observava o movimento dos bombeiros. Tentava entender a tragédia, como tantas outras, mas, esta era especial porque a vivera. Êxtase, era o que sentia, flutuava em seus pensamentos enquanto se mantinha sentado na amurada em frente ao palco daquele horror repentino.
Parecia pesadelo mas estava consciente no momento em que aquela menina se sentou ao seu lado.
- Como está? – Perguntou ela com voz e gestos mais que angelicais.
- Abobado estou, passado, como diria, assustado e também sinto leveza que não conhecia. Não consigo compreender este desastre que se abateu sobre mim! – Ele respondeu.
Outras pessoas foram aos poucos se sentando ao longo da amurada, tão atônitos quanto ele.
Muitos, dezenas e dezenas aos poucos se juntavam . E sentiam o mesmo que ele. Pareciam todos envolvidos num silêncio sepulcral, embora todos aqueles carros em alta velocidade rugiam na avenida, pessoas gritavam sirenes disparavam e todas as pessoas mostravam um semblante de dor, surpresa e sofrimento. Mas os que se assentavam na amurada nada ouviam, nem mesmo as turbinas dos aviões que aterrissavam sobre suas cabeças, na cabeceira da pista.
A menina então disse:
- Não podemos mais ficar aqui, acompanhem-me, todos terão as respostas que procuram se me seguirem, já não interessa mais esta situação, nada mais pode ser feito, venham!
Então ele se levantou, ela pegou-o pela mão e o conduziu. Todos os outros se juntaram a eles e os seguiram, num caminhar longo e lento ao redor do aeroporto.Passaram então no outro lado, onde jatos decolavam. Então encontraram um outro grupo que já os aguardava. Juntaram-se e então o porta voz deste novo grupo disse:
- Já os aguardávamos, temos de continuar, outro grupo nos espera. A anos que estamos por aqui, mas este tempo não representa nada mais, estamos prontos para uma longa viagem mas dependíamos da vossa chegada para que pudéssemos iniciar a jornada.
Dois grupos marcados pela mesma história, na chegada e na partida. E seguiram então.
Ele se sentia flutuando, e todos os outros membros do grupo também.
Percebeu que não havia distâncias, tudo girava na velocidade da luz, extraordinário, fantástica sensação de leveza e liberdade. Sorriu.
E o terceiro grupo os esperava numa clareira aberta em mata densa, demonstravam ansiedade pela espera e ficaram exultantes quando por fim se juntaram.
Disse a menina então:
- O Eterno me enviou! Tudo está agora consumado, todos aqui unidos pela mesma sorte e todos prontos para iniciar a grande viagem. Que seja assim, findou a espera, bem vindos a bordo!
Cerca de quatrocentas almas, voaram para a morte e renasceram em grande vôo de luz...
Vôo 402 São Paulo –Rio outubro 1996 / Vôo 1907 Manaus-Brasília setembro 2006 / Vôo 3054 Porto Alegre-São Paulo julho 2007. Agora entre os resplendores da luz perpétua.
Pode-se questionar o motivo destes acidentes, procurar culpados, mas, não se pode questionar o mistério da ressurreição...