O país mudou

O país mudou e é raro encontrar-se uma classe média alta que, assuntosamente, trague um Dom Perignon, sem ao menos saber o que é um vinho. Oferta essa mesma classe média, um Romanée Conti ao seu melhor amigo e ainda degusta um queijo Brie a qualquer hora do dia. Pergunte a essa mesma gente quem foi Machado de Assis que certamente responderá que foi um dos nossos velhos cantores da Música Popular Brasileira. Há os que, ao lerem esta crônica, não consigam afastar o sério do cômico nas entrelinhas do que escrevo.

Essas escorpiônicas atitudes põem um povo às avessas da realidade que deveria viver. A ruptura de costumes está sendo perversa demais. O dinheiro tem trazido à sociedade coisas estranhíssimas. Esse é o lado perverso do progresso!

Além de tudo isso, o povo tem andado com as viseiras patrióticas esquecidas. Os direitos e deveres atravessam fronteiras longínquas e o homem hoje é universal em seu sentido cidadão mais abrangente . Na Europa, o asiático responde como americano. É a globalização afiada, qual navalha destemida e sobrevivente.

O brasileiro continua vivendo entre bares, carnavais e pouca leitura. Tinge-se de importante ressentimento o professado nacionalismo deseducado, quando melhor seria sermos mais originais e atentos a “condição ne qua non”.

Mas há muito mais do que isso no ar. Vociferam estranhas vozes, professam idéias mirabolantes outros tantos. A identidade familiar do nosso povo é primeva, tribal, sem muita direção e sentido. A selva instalou-se entre nós e o salve-se quem puder é o governo mais forte.

Os justiçosos sumiram do mapa. O justiçamento pior ainda. E ainda temos que ter estômago para ouvir da Ministra Marta Suplicy o “relaxe e goze”. Pode?

E logo essa Ministra, que conhece tão bem os caríssimos Romanée – Conti da vida, e publica uma mísera fala como essa, desencantando o colorido plural deste país. Com sua atitude ela troça o idioma e a cultura.

No país, parece correr de Norte a Sul um poderoso fogo fátuo redesenhando valores, mudando os velhos axiomas sociais. É por isso que relembro vivas dentro de mim, em minha alma sedenta por justiça, as palavras do grande líder Martin Luther King – “Sonho com o dia em que a justiça correrá como a água e a retidão como um caudaloso rio”.