Parabéns à Campiã Rafaela Silva

1.

Os jornais publicaram o comentário de Rafaela Silva, campiã olímpica em Judo, nos Jogos Olímpicos dp Rio, em 2016

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"A atleta brasileira, uma mulher negra, lésbica e oriunda de uma favela, deu a cara numa campanha contra o racismo no desporto."

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“Estou muito feliz por estar a realizar o meu sonho, mostrar às pessoas que me criticaram em Londres [2012], que disseram que eu era uma vergonha para a minha família, que o lugar para o macaco era numa jaula e não nos Jogos Olímpicos”, afirmou a judoca na apresentação da campanha.

Rafaela recorda a infância como uma “menina que não gostava de estudar e que nunca pensou em sair da favela” e incentiva os jovens a procurar motivação e a aproveitar as oportunidades, dando o exemplo da medalha de ouro que agora exibe e que inspira jovens e adolescentes de zonas marginais, não só do Brasil, mas de todo o mundo.

“O macaco que teria que estar numa jaula em Londres, saiu da jaula e foi campeã olímpica aqui no Rio de Janeiro”, continuou a atleta brasileira."

(etc)

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2.

Eis o meu comentário à notícia:

RACISMO e VOCABULÁRIO

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Só um pormenor está aqui desadequado:

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Não somos "brancos" nem "negros", pressupondo-se que essa designação aponta para uma diferenciação velhinha como o Matusalém: que uns serão "superiores" e outros "inferiores". Nunca é demais reafirmarmos que pertencemos, todos, à mesma Espécie Humana, e que temos que ser vigilantes connosco próprios, e reconvertermos o nosso vocabulário!

Porque as diferenças que possam existir, para além de questões de hereditariedade e de genética, tanto podem existir na população europeia, como na população de origem africana. E são consequência das diferentes condições sociais:

1º Primeira e mais importante: uns têm alimentação condigna desde que nascem e outros não;

2º Com má alimentação, o aproveitamento escolar é, em muitíssimos casos, (natural e forçosamente) inferior;

3º Onde não há hábitos de estudo e de esforço intelectual por parte dos pais, não há 'modelos' que estimulem os estudantes; embora, felizmente, haja excepções;

4º Numa habitação sem condições de sossego e higiene, como estudar?

5º Se mesmo com a escolarização básica conseguida em circunstâncias aceitáveis, permanece grande iliteracia e ausência de consciência social e as pessoas ficam tão sujeitas aos efeitos das propagandas disto e daquilo, como não será a escolarização nas favelas, nos bairros periféricos? Claro que há excepções. Há tempos, a comunicação social mostrava o menino que estudava à luz dos lampiões de iluminação pública... Então, comovem-se os corações, e toda a gente quer dar bolsas de estudo!

6º E depois há a questão crucial da Linguagem! Os alunos das favelas ou dos bairros periféricos não usam a linguagem da escola... O seu vocabulário é consideravelmente mais limitado, ou diferente. Assim, não descodificam a informação com a mesma naturalidade que os alunos urbanos... Ou seja, a descodificação não acompanha o débito da informação.

Um aparte:

Foram as dificuldades de comunicação, devidas ao diferente domínio da Linguagem 'padrão', que propiciaram, em grande medida, o Colonialismo e a convicção de que o nativo colonizado era de inteligência inferior à do colono...

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É para mim sempre motivo de reflexão, ver o número de atletas ou jogadores de futebol de origem africana, e o último jogo do Europeu foi um exemplo flagrante:

E fico a pensar:

Se estes jovens têm uma inteligência tão dinâmica, e rápida, para analisarem as necessidades do jogo e as movimentações necessárias com esta velocidade, como não seriam notáveis e criativos, se tivessem seguido uma carreira científica, ou literária, ou outra?...

Recordo sempre o capítulo "Descobridores de Génio", pág 251, da obra "As minhas estrelas negras" (e lá caímos nós outra vez no tremendo adjectivo...) - de Lilian Thuram (Tinta da China, 2013)

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Os meus parabéns à campiã de judo Rafaela Silva, " a menina que não gostava de estudar"... E que orientou a sua inteligência e todas as suas capacidades para aquilo que conseguiu fazer tão excepcionalmente bem - dominar a revolta, a agressividade, e orientá-las para uma finalidade onde finalmente conseguiu tão grande êxito!

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© Myriam Jubilot de Carvalho

11 de Agosto de 2016

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Myriam Jubilot de Carvalho
Enviado por Myriam Jubilot de Carvalho em 12/08/2016
Código do texto: T5726562
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