O PÁSSARO

Súbito, um pássaro na sala. Chegou assim como um relâmpago inesperado, repentino, assustado, cansado, bicos abertos, esbaforidos. E entrou, melhor, quase caiu estatelado no chão se não fora o anteparo da cortina. Olhei-o um tanto surpreendido, ele tão pequenino, os olhos desmesurados, as asinhas entreabertas, o ar de mais surpresa do que eu aparentava. E me perguntei, olhando, procurando cauteloso através de que espaço a avezinha entrara. Afinal de contas, as janelas do meu apartamento situado no quinto andar, estavam tão pouco abertas e com o intuito simplesmente de permitir a passagem da brisa. Portanto, o pássaro não tinha por onde entrar, inexistia espaço suficiente para o tamanho dele nas aberturas ínfimas das janelas. Compreender isso incomodou-me, intrigou-me, deixo-me sem ação. Voltei a olha-lo, ele abriu ainda mais o bico, a desafiar-me, esperando de mim uma reação qualquer que o colocasse na defensiva para um contra-ataque.

Eu não o queria na minha sala, nem na minha vida, precisava levar o inocente animalzinho assustado para o seu habitat natural, tira-lo de dentro de casa. O bichinho, é óbvio, também não pretendia ficar na minha companhia e, certamente, me via como enorme ameaça, um monstro, um bicho assustador, e, por ele, estaria o mais distante possível de mim. Mas, como agir para espanta-lo de forma suave, sem estresse e sem machucados? Primeiro, fechei todas as portas de acesso aos quartos e à cozinha para não piorar ainda mais a situação, posto que ele poderia se esconder em qualquer fenda ou nicho disponível. E ficaria ainda mais difícil removê-lo. Antes de fechar a da área de serviço, empunhei a vassoura, não para ferir a ave, visava tão-somente mostrar a ele o caminho da saída. Para esse intuito, abri a porta do apartamento de ponta a ponta. Antes de usar a vassoura, joguei uma camisa velha nele, que nem piscou, não deu a menor importância a minha atitude. Continuou lá sobre o anteparo da cortina, acho que estudando uma maneira de me vencer e sair de perto de mim o mais rápido possível.

Aproximei-me dele passo a passo, sorrateiro, silencioso, ele com os olhos largamente abertos para mim, eu sem a menor ideia do ato a ser efetivado para retirar o intruso de minha sala. Movi a vassoura na direção dele, nada, a não ser breve abrir de assas à guisa de defesa. Cheguei-me a ele mais e mais, o bichinho abriu completamente as asas e o bico, pronto para enfrentar-me, emocionando-me ante tal gesto de valentia. Brandi com mais veemência minha, digamos, inútil arma, e foi nesse momento que o passarinho voou rápido, tão ligeiro mesmo, a ponto de esbarrar na parede ao lado da porta aberta do apartamento e se debateu. Corri para mostrar-lhe onde era a saída, ele se agitou enlouquecido, pulou, bateu as asas, viu a abertura e saiu destabanado em disparada, parando no hall. Não contei conversa, fechei rapidamente a porta enquanto meu coração me ensurdecia com suas batidas aceleradas, porém abri um sorriso de alívio por tê-lo retirado da sala. Não sei para onde ele foi, como saiu do prédio ou se não encontrou a saída para a liberdade. Não foi fácil, mas, ufa, ele se foi do meu apartamento.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 11/08/2016
Código do texto: T5725475
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