MINHA RELAÇÃO COM O TELEFONE

Inda que eu aparente toda a calma do mundo, nem sempre sou manso e educado. Entre muitas coisas que me irritam (e elas são tantas!), telefone tocando está praticamente no topo da minha lista. Tenho uma relação de amor e ódio - o segundo é mais presente - com esse aparelhinho tão necessário e tão chato. Se eu fosse obrigado a trabalhar como telefonista, estaria lascado. Ou sem cabelos.

Telefone tem o péssimo hábito de tocar justamente quando você está no meio de uma tarefa que exige concentração. Reluto muito em assumir a tarefa ingrata de atender o dito cujo no meu trabalho e só o faço quando ninguém mais está disponível. Já tive pontos descontados em minha avaliação funcional por conta disso, mas não posso fazer nada: tenho vontade de jogar o bichinho na parede. Embora, na maioria das vezes, eu atenda a ligação com a finesse de um mordomo inglês...

Por isso, não sou daqueles que não desgrudam do celular nem pra salvar a mãe de uma enchente. Vivo tropeçando nesses seres pelas ruas, pois nunca olham por onde andam. Com relação à mãe citada no início do parágrafo, tenho pra mim que eles até salvariam a coitada, mas só depois de tirar uma selfie que seria compartilhada, curtida e comentada em todas as redes sociais. Tenho internet e Wat Zap no celular, confesso que dou minhas espiadinhas, mas não faço disso uma necessidade. Muitas vezes desligo o aparelho, pra que não fique me chamando quando estou fazendo algo mais interessante ou mais útil. Como ler um livro, por exemplo.

Telefone é necessário e a tecnologia nos permite fazer coisas, contatar pessoas com facilidade, para resolver questões que antes dependiam de deslocamento e tempo. Mas não faço disso um substituto para o que preciso dizer (ou fazer) cara a cara.

Admiro a profissão de telefonista, pois conseguem atender trocentas mil ligações por dia, ouvir todos os tipos de reclamações e desaforos, isso tudo tendo que ser educados o tempo todo. E nem recebem insalubridade por isso. Mas a minha relação com esse invento tão importante do Graham Bell não é das melhores. E não tenho ilusões de que vá mudar.