Homem barroco
"Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinquido,
Delinquido vos tenho e ofendido,
Ofendido vos tem minha maldade.
Maldade que encaminha à vaidade,
Vaidade que todo me há vencido.
Vencido quero ver-me e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade.
Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, dai-me os braços,
Abraços que me rendem vossa luz.
Luz que claro me mostra a salvação,
A salvação perdendo em tais abraços,
Misericórdia, amor, Jesus, Jesus."
Gregório de Matos
O homem barroco abraça, beija, transpira, almeja, se envolve, suspira...
E no final... se arrepende!
O homem barroco fica em conflito permanente entre a consciência do pecado e a necessidade da salvação, entre o desejo da transgressão e a solicitação do perdão, entre certezas divinas e dúvidas terrenas...
O homem barroco ama e quer ser amado, satisfaz e sente desejos...
E no final... lamúrias mil por ter pecado!
"Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado"
Eu te amo, te desejo, te quero por inteiro...
Quero sua voz, sua cor, sua lascívia, seu tudo...
Mas, oh Senhor! Como é difícil resistir! Tudo é desejo, tudo é prazer! Mas, oh Senhor! Não posso! Mas quero! Não só quero, mas desejo imensamente! Hoje quero com força, amanhã... Perdão, senhor, meu pecado é grande!
"Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-me; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória."
O homem barroco, em seu sofrimento contínuo, cultua prazer e dor, sem saber o caminho a seguir.
Quer chegar aos céus...
Mas se perde com os pés no chão...
Quer, almeja a glória...
Mas se vê em êxtase face a face com uma dama...
O homem barroco está em conflito permanente, num jogo de oposições e contrastes.
Quer o amor das mulheres...
Mas se tortura ao pensar que no pecado vive...