La Barca

Era um costume antigo do homem de meia idade, dar uma andada na praia de Casa Caiada, em Olinda. Não tomava banho de mar e nem se estirava na areia ao sol. Só andava e depois tomava uma cervejinha gelada, intercalando com umas lapadinhas de Pitu, beliscando também uma agulinha num barraco de um sujeito que se tornara seu amigo. Às vezes nem conversavam, ficavam apenas ouvindo num velhosom Toshiba uma fitas-cassetes antigas, a maioria sambas-canções e boleros. Geralmente a primeira fita que o proprietário botava era uma antiga do Trio Yrakitan, "Boleros que Gostamos de Cantar".

Um dia estavam ouvindo música quando viram parar um táxi e dele descer uma senhora de meia idade, muito bonita, elegante e simpática, mesmo estando vestida simplesmente com um short, blusa comum, usando um chapéu Panamá, calçando sandálias de couro e com uma bolsa a tiracolo. Sentou-se calmamente, fez sinal e pediu uma cerveja, começou a futucar na sua maquininha e depois a colocou dentroda bolsa. O dono do pedaço ficou meio ouriçado de olho nas coxas da dona, eram lindas. Ele piscou o olho para o amigo.

Ficaram ali, na deles, ficou tomando a cerveja, também pedira uma agulha, mordiscava de leve, ouvindo a música. Então do som saiu o bolerão La Barca: "Dizem que se partires eu te esqueço/ Tu que és da minha vida a razão/ Nunca te esquecerei porque te quero..." aí ela balançou a cabeça e exclamou divertida: - Essa não, parece que essa música me persegue. E riu. Os dois também riram. Criou-se, por assim dizer, um clima, a música fizera isso, semore faz. Ela então convidou os dois para a sua mesa. Foram na hora que nem caldo de cana. Coimeçaram a conversar, aquela conversa de tapioca mordeu beiju, miolo de pote, mar, beleza do mar, praias de Pernambuco, bons momentos e etc e coisa e tal. O proprietário teve que se ausentar porque começou a chegar a freguesia fixa. O homem ficou com a mulher. Rla notou que ele tomava a cerveja e depois uma dose de cachaça. Peguntou se era a famosa Caipirinha, ele disse que não que era a famosa Pitu, o aperitivo do Brasil. Ela riu e pediu tambem uma dose. Tmou e fez uma careta divertida, mas gostou, ainda tomou mais três doses. Ela disse que era de santa Catarina, que viera numa escursão com um grupo da tal boa idade, e resolvera conhecer a cidade que seu saudoso marido tanto falava, nessa praia em particular e na Sé. Mas nao seu o nome e nem perguntou o dele. Em dado momento, ela olhou para o relojinho de pulso, e disse que estava ficando tarde e ainda tinha que ir à Sé, que iria ver se chamava um táxi. O homem então deu uma de cavalheiro, disse que se ela permitisse ele a levaria. Ela se despediu do proprietário e pegaram um táxi. Àquela altura convrsavam como se fossem amigos a séculos, quem os visse diria que eram um casal. Subiram a Sé, ela ficou encantada com a vista do Recife do alto, passou na Igreja, comprou algumas lembranas numa lojinha, mas quando iam descendo ela tropeçou e caiu nos bralos dele, como se tivesse sido planejado, coisas do destino, a a atração foi imediata, beijaram-se ardentemente. Ela entao sussurrou no ouvido dele: - Você não conhece um lugarzinho que a gente possa dar uma descansada antes que eu me reuna com as minhas companheiras de viagem. Ele ficou meio perdido, não levaria aquela mulher para um motel, entao disse a ela que poderiam ir para o seu apartamento que anão era grande coisa, mas ela poderia descansar. Foram. Qando entraram foram logo se agarrando, de despiram e fizeram amor como há muito tempo nenhum dos dois faziam. Repetiram. Depois conversaram e riram muito e ela viu um violão encostado num birô. Pegou o violão, ja estava vestida, deu uns acordes e cantou La Barca, mas anao em português, mas em espanhol, advertindfo a ele que nessa lingua o bolero ficavaainda mais bonito e cantou com uma voz aveludada e linda: "Dizemque la distancia/ es el olvido/ Pero yo non concibo esa razón/ Porque yo seguiré/ siendo cativa/ de los caprichosde tu corazón...".E chegou a "singrar otros mares de locura", até fechar com "Hassta tu decidas regressar".

Depois olhou mais uma vez o mostrador do relojinho e disse que precisava regressar para o hotel. Pegaram um táxi e ele a deixou na porta do hotel, beijaram-se se despedindo, sem nenhuma promessa de reencontro, fora apenas uma espécie de sonho.

No outro dia quando chegou na barraca disse ao amigo que botasse quaquer fita, menos aquela do Trio Irakitan que tinha La Barca, não explicou o motivo. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 09/08/2016
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