"QUEM SÃO ELES?, QUEM ELES PENSAM QUE SÃO?" ("Quando todo mundo quer saber é porque ninguém tem nada com isso." — Millôr Fernandes)
Era a primeira reunião pedagógica do mês de agosto, deste ano. O que deveria ser o primeiro dia de aulas do segundo semestre, foi o tal momento pedagógico. Não foi diferente ali, do que comumente acontece; ouvi e tive que aceitar determinações e outras coisas de tirar lágrimas dos olhos de crocodilo. Aprovaram inclusive o que em outras reuniões já tinham condenado, é o vai e vem da inutilidade, como pedaços de fezes boiando n'água. Meu voto está sempre na minoria. Não vale nada!
Não compreendo alguns colegas de trabalho, professores maduros até. Nas reuniões pedagógicas, não são muito dados a ideias inovadoras; graças a Deus, ainda há aqueles poucos que se propõem a uma pequena ousadia. Na verdade, eu não sei o que quis dizer a colega quando reclamou de um professor desta unidade que afrouxa demais as normas com os alunos para ganhar a simpatia deles: tornar-se o "bonzinho" é querer aparecer. E ela chegou ao absurdo de exigir que os colegas não sejam bonzinhos, pois desconfiava que ela mesma poderia se passar por má, visto ser a única "rígida" da escola, a seu modo: supostamente "Ideal"?
Eu sempre acreditei que a diversidade cultural faz o conhecimento legítimo. Por isso, senti-me muito agredido com esse desejo de uniformização no trato com o aluno, pois os procedimentos didatísticos unificados como rega geral, propostos nos manuais de Paulo Freire, tolhe a criatividade de professores e alunos. Esse tipo é capaz de afirmar que só ele procede corretamente. Será se ela está sugerindo que todos da unidade escolar trabalhem do seu jeito para não ter distinção? Ou melhor, será se ela quer anular o direito de escolha do aluno de gostar desse ou daquele professor? Mas, eu continuo pensando que se todos pensassem igual, ninguém pensaria grande. Assim como disse Carlos Drummond de Andrade: "Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar." Estaria ela, pensando no crescimento da escola em que trabalha ou só está pensando em si mesma, não querendo ser rejeitada sozinha? Como os "bonzinhos" em busca de aceitação, ainda que por vias diferentes.
O maior medo do professor inseguro é que os seus alunos venham a gostar mais dos outros do que dele. Para seu conforto digo, ninguém consegue desagradar a todo mundo, bem como não se consegue agradar todo mundo. O professor de quem os alunos gostam mais é o de educação física. Será se todos os demais enciumados deverão dar "bolas" aos alunos para se equipararem? O Horácio já disse: "O invejoso emagrece com a gordura dos outros".
Se tratam assim os colegas, como tratam os seus alunos? Assim, nos conselhos pedagógicos que deveriam apurar as melhores ideias para as mudanças da educação, cultivam-se ainda esses atrofios. A educação não cresce porque deixou muitos para trás, e aqueles retardatários ainda lutam com o apoio dos fracos a fim de continuar na zona de conforto. Um conselho de classe ou uma reunião pedagógica é boa, quando trata de coisas que preservam a zona de conforto para a maioria. Uma andorinha só não faz verão, por isso tudo continua igual!
"Andorinha lá fora está dizendo:
— Passei o dia à toa, à toa.
Andorinha, andorinha, minha canção é mais triste:
— Passei a vida à toa, à toa."
(Manuel Bandeira)