Conhecendo o Mundo
As crônicas, conhecendo o mundo.
Meu nome é Miguel e eu era bem novinho, naquela época eu nem sabia que tinha uma diferença imposta pelos falsos valores desses porcos hipócritas que dominam o mundo, diferença que meu apareceu pra mim pela primeira vez quando meu pai me levou pra jogar bola na pracinha perto da casa do meu avo, era um bairro nobre, todas as crianças brancas com chuteiras de marca famosa mas a bola era minha. Eu vi um moleque da minha idade, eu tinha uns 6 anos na época, a pele dele era escura, ele tava descalço, suas roupas bem sujas... Tinha mãe com certeza, mas ali ela não tava. Chamei ele pra jogar, porra o olho dele brilhou, ele veio jogar com a gente, porem a diferença de classes ali existia, um menino da nossa idade disse que não ia jogar com ele, porque ele era ‘’preto’’ e ‘’fedia’’ eu senti a tristeza do menino preto que tava tudo sujo, e não pensei duas vezes fui pra porrada com o pia branco, com 6 anos de idade já brigava feito gente grande, acho que foi de tanto ver meu pai bater na minha mãe, ex policial foi usado pelo estado enquanto era útil, bati bastante no piazinho até que meu pai separou e o pai dele veio tirar satisfação com meu pai, meio confuso isso? Mas meu pai falou sobre o que o filho dele tinha dito para o ‘’preto fedido’’ o cara ficou vermelho, pois ele havia ensinado seu filho a ser mais um filho da puta alienado pelos reis da hipocrisia que acreditam na diferença do preto pro branco, do pobre pro rico, brigou com o filho que também ficou confuso, pois aos seus seis anos de idade tinha achado uma oportunidade de reproduzir as palavras que seu pai, seu maior exemplo, tinha dito no dia anterior para um flanelinha ‘’preto e fedido’’ que veio pedir uns trocados na saída do restaurante. O cara saiu vermelho de vergonha brigando com o filho que anos depois virou gay e casou com um ‘’preto’’ que conheceu no vestiário depois de jogar bola. Eu fiquei na praça jogando bola com o menino, seu nome era João mas todo mundo chamava ele de pelezinho, meu pai tinha que beber até ficar bêbado no bar que ficava na esquina da praça, por tanto deu tempo de jogar bola, só fiquei com raiva que o pia jogava melhor que eu, mas isso era normal porque nunca fui bom de futebol, no fim das contas o dia foi divertido, ate hoje encontro o Pelezinho por ai, na ultima vez eu tava fumando uma baseado com meu primo, encostado no meu opala na mesma praça que a 20 anos atrás aconteceu isso quando ele passou por mim usando uma roupa suja e um chinelo, me cumprimentou, infelizmente ele acreditou no que a sociedade sempre disse pra ele, que ele era um ‘’preto fedido’’ e não em mim que um dia na vida, aos seis anos de idade lutei por ele literalmente, para ele ver que eramos iguais. No som do opala, coincidentemente tocava uma musica chamada vida loka.