FUGA
FUGA
É uma pena o estado vegetativo
meus pés mal querem descer as escadas
pra decorar minha pele
com o calor de qualquer sol
que surja fugindo de si mesmo
abrir algum botão fechado
pedindo narinas e bocas
depois de saber que perfume
verdadeiro precisa ser encontrado
pronunciado de alguma maneira
tem vontade de colher-me
tem algumas folhas velhas caindo
meus pensamentos secretos
são um defeito que trago comigo
quem quer saber deles
quem deles dirá serem
coisas pra desfrutar na cama
no caminho do parque
em qualquer loucura mentirosa
precisando desmanchar fruições pequenas
frustrações de momento
aquela novena pasmada de olhar
aquelas fotos do engomo passado
penduradas ainda sendo usadas
por todo esquecimento na sala
parecendo um troféu descanso
da virtude
alguém que morre e fica oferecido
parece embebido mumificado
determinando posses
aquele que vai embora
e torna-se modelo de lágrimas
num princípio de nada
deve ser alguma doença incurável
porque o ser amável foi um dia
contagiante o bastante
p'ra que eu tenha pena derrepente
de mim mesma e queira
encontrar na vida
o que não tenho por dentro
seja o aceno da primavera
brotando minha inveja declarada
daquelas flores possuídas
seja a vida desobrigando
minha existência falida
de usar-me como motivo
devo trair esta tranquilidade acabada
que nasce nas manhãs
e morre de novo quando
abro a porta.
MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - Good Morning Hertache